quinta-feira, 2 de julho de 2020

Lambe-lambe

Lambe-lambe popularizou o retrato

Liz Batista

Atividade nasceu no início do século 20 
e impulsionou mudanças na fotografia


Fotógrafo lambe-lambe no Jardim da Luz em 17/2/1985. L. Gevaerd/ Estadão

Décadas antes dos “selfies” e da foto digital, bem antes que qualquer lance cotidiano e banal pudesse ser registrado com um celular, a fotografia, mais especificamente o retrato era algo que carregava certa formalidade. Inicialmente elas eram feitas em estúdios. Mas, no início do século 20 por volta de 1915, um novo ofício surgiu, o fotógrafo ambulante, ou “lambe-lambe”.

Munidos de uma câmera-laboratório portátil, os fotógrafos de praça clicavam a foto, a revelavam e entregavam as cópias aos clientes. No processo, eles lambiam a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão ou passavam a língua sobre a chapa para fixá-la, o gesto lhes rendeu o apelido de lambe-lambe.

O Estado de S.Paulo - 24/11/1974


Nas praças, parques, jardins, onde houvesse um espaço público com área de lazer, ali estavam os ambulantes, oferecendo aos transeuntes a chance de imortalizar aquele instante. A atividade ajudou na popularização da fotografia e tornou o retrato um produto mais acessível. Na década de 1970, a profissão entrou em decadência. A indústria da fotografia havia colocado no mercado uma variedade de câmeras portáteis e os hábitos de lazer da população urbana haviam passado por transformações. O mercado dos ambulantes se viu reduzido a retratos para documentos, como mostra a foto acima. 


Lambe-lambe tira foto para documento em 17/2/1985. L. Gevaerd/ Estadão

Os registros feitos pelos fotógrafos ambulantes são importantes fontes históricas. Eles refletem as transformações sociais e econômicas das cidades. A mudança de cenário, dos painéis usados como fundo nos estúdios, para as ruas e suas inúmeras possibilidades de paisagens ampliaram os significados do registro fotográfico. Imigrantes e migrantes poderiam registrar seus dias na metrópole para onde foram em busca de um sonho ou de dias mais prósperos e casais de namorados podiam eternizar um romântico passeio no jardim. Uma mudança comportamental também marcou esse tipo de registro. Muitas vezes feitas em um momento de lazer, a foto tirada por um ambulante refletia uma maior naturalidade, os retratos eram menos posados.

(Do Estado de S.Paulo de 02/12/2015)



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