Lambe-lambe popularizou o retrato
Liz Batista
Atividade nasceu no início do século 20
e impulsionou mudanças na fotografia
e impulsionou mudanças na fotografia
Fotógrafo lambe-lambe
no Jardim da Luz em 17/2/1985. L. Gevaerd/ Estadão
Décadas
antes dos “selfies” e da foto digital, bem antes que qualquer lance cotidiano e
banal pudesse ser registrado com um celular, a fotografia, mais especificamente
o retrato era algo que carregava certa formalidade. Inicialmente elas eram
feitas em estúdios. Mas, no início do século 20 por volta de 1915, um
novo ofício surgiu, o fotógrafo ambulante, ou “lambe-lambe”.
Munidos
de uma câmera-laboratório portátil, os fotógrafos de praça clicavam a foto, a revelavam e
entregavam as cópias aos clientes. No processo, eles lambiam a placa de vidro
para saber qual era o lado da emulsão ou passavam a língua sobre a chapa para
fixá-la, o gesto lhes rendeu o apelido de lambe-lambe.
O Estado de S.Paulo - 24/11/1974
Nas
praças, parques, jardins, onde houvesse um espaço público com área de lazer,
ali estavam os ambulantes, oferecendo aos transeuntes a chance de imortalizar
aquele instante. A atividade ajudou na popularização da fotografia e tornou o
retrato um produto mais acessível. Na década de 1970, a profissão entrou em decadência. A
indústria da fotografia havia colocado no mercado uma variedade de câmeras
portáteis e os hábitos de lazer da população urbana haviam passado por
transformações. O mercado dos ambulantes se viu reduzido a retratos para documentos,
como mostra a foto acima.
Lambe-lambe tira foto
para documento em 17/2/1985. L. Gevaerd/ Estadão
Os
registros feitos pelos fotógrafos ambulantes são importantes fontes históricas. Eles refletem as transformações sociais
e econômicas das cidades. A mudança de cenário, dos painéis usados como fundo
nos estúdios, para as ruas e suas inúmeras possibilidades de paisagens
ampliaram os significados do registro fotográfico. Imigrantes e migrantes
poderiam registrar seus dias na metrópole para onde foram em busca de um sonho
ou de dias mais prósperos e casais de namorados podiam eternizar um romântico
passeio no jardim. Uma mudança comportamental também marcou esse tipo de
registro. Muitas vezes feitas em um momento de lazer, a foto tirada por um
ambulante refletia uma maior naturalidade, os retratos eram menos posados.
(Do Estado de S.Paulo de 02/12/2015)
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