quinta-feira, 16 de julho de 2020

Poemas satíricos de Lisindo Coppoli



Política em versos. Sonetos humorísticos. São Paulo: Livraria Editora Antonio de Carvalho, s.d. 160 p. 14x19 cm. Capa do caricaturista Manolo. Poemas datados entre 1950 e 1953. Col. A.M.

No escritório

− Eu não suporto mais esta opressão!
Sou comunista revolucionário
Gosto da liberdade e sou adversário
Daquele que se diz chefe ou patrão.

Isto aqui não é vida: é escravidão.
E assim não pôde ser! O proletário
Não se espezinha mais! Pelo contrário,
(E nisso chega o chefe da seção).

− Pois é, como eu dizia, neste mundo
A disciplina é tudo, e no trabalho
Quem costuma queixar-se é o vagabundo.

E nosso chefe, um homem tão abnegado...
Oh, bom dia! Está aqui, senhor Carvalho?
Peço perdão... não tinha reparado.

“Cautela e caldo de galinha...”

Já desaparecida a agitação:
Que a escolha de um governo sempre encerra.
Está-se inaugurando em nossa terra
Uma era de paz e compreensão.

Getúlio, o novo chefe da Nação,
A quem o povo em pânico se aferra,
Não mostra ter propósitos de guerra;
E os chefes dos Estados também não.

Estes, segundo informam os jornais,
Com palavras abertas e leais
Hipotecam apoio ao Presidente;

Tão espontâneas manifestações;
Demonstram que não há mais dissensões;
E, também, que mais vale; ser prudente.

Feitos à máquina

A nossa situação vai melhorar.
Se é verdade o que dizem os jornais,
Daqui por diante não teremos mais
Nenhum motivo pra nos lastimar.

Informa a imprensa que para votar
Vão ser usadas máquinas, as quais
Irão cuidar dos nossos ideais
Poupando-nos o esforço de pensar.

Tais aparelhos foram inventados
Pra se obter em pouquíssimos instantes
Bons vereadores e hábeis deputados.

E assim podermos, com satisfação,
Dizer: − “O quê !... nossos representantes?
Todos feitos à máquina eles são!”



2 comentários:

  1. LISINDO ROBERTO COPPOLI25 de fevereiro de 2024 às 03:18

    Na qualidade de neto de Lisindo, de quem herdei o primeiro nome, fico muito feliz com esta referência, da qual tomei ciência hoje, ao trabalho de meu avô. Pretendo reeditar este livro, pois os sonetos, infelizmente, estão mais atuais do que nunca!

    ResponderExcluir
  2. Numa coisa concordamos: o livro realmente merece ser reeditado. Ele faz crítica à ditadura do Estado Novo (1930-1945)
    e faria novamente se o ex-presidente desse o golpe que queria dar...

    ResponderExcluir