terça-feira, 17 de agosto de 2021

Oliveira Silveira*

 

Eis o homem. Natural de Rosário do Sul, poeta e ativista do movimento negro, Oliveira Silveira completarias 80 anos de idade ontem (16.08.2021). A morte, porém, interrompeu a sua trajetória brilhante em 1° de janeiro de 2009. Entre as façanhas de Oliveira Silveira, está o fato de ter ajudado, e muito, a consagrar o 20 de novembro como dia da Consciência Negra. Formado em Letras, membro do Grupo Palmares, foi um combatente incansável e criativo. Poeta de grande qualidade estética, construtor de imagens fortes e precisas, retratou como poucos a história da opressão dos negros pelos brancos no Brasil. 

Poema sobre Palmares

Nos pés tenho ainda correntes,

nas mãos ainda levo algemas

e no pescoço gargalheira,

na alma um pouco de banzo

mas antes que ele me tome,

quebro tudo, me sumo na noite

da cor de minha pele,

me embrenho no mato

dos pelos do corpo,

nado no rio longo

do sangue,

voo nas asas negras

da alma,

regrido na floresta

dos séculos,

encontro meus irmãos,

é Palmar,

estou salvo! 

(...) 

O muro 

eu bato contra o muro

duro

esfolo minhas mãos no muro

tento longe o salto e pulo

dou nas paredes do muro

duro

não desisto de forçá-lo

hei de encontrar um furo

por onde ultrapassá-lo 

Poeta da resistência, da liberdade e do sofrimento, Oliveira Silveira foi marcante. Eu, que vivo fazendo perguntas ingênuas, pergunto: como foi que um cara desses não parou na Academia Brasileira de Letras? Aliás, faço outra pergunta: até quando a casa de Machado de Assis será dominada por senhores brancos, alguns sem obra literária? 

*Parte da coluna de Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, agosto de 2021

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