Eis o homem. Natural de Rosário do Sul, poeta e ativista do movimento negro, Oliveira Silveira completarias 80 anos de idade ontem (16.08.2021). A morte, porém, interrompeu a sua trajetória brilhante em 1° de janeiro de 2009. Entre as façanhas de Oliveira Silveira, está o fato de ter ajudado, e muito, a consagrar o 20 de novembro como dia da Consciência Negra. Formado em Letras, membro do Grupo Palmares, foi um combatente incansável e criativo. Poeta de grande qualidade estética, construtor de imagens fortes e precisas, retratou como poucos a história da opressão dos negros pelos brancos no Brasil.
Poema sobre Palmares
Nos
pés tenho ainda correntes,
nas
mãos ainda levo algemas
e
no pescoço gargalheira,
na
alma um pouco de banzo
mas
antes que ele me tome,
quebro
tudo, me sumo na noite
da
cor de minha pele,
me
embrenho no mato
dos
pelos do corpo,
nado
no rio longo
do
sangue,
voo
nas asas negras
da
alma,
regrido
na floresta
dos
séculos,
encontro
meus irmãos,
é
Palmar,
estou salvo!
(...)
O muro
eu
bato contra o muro
duro
esfolo
minhas mãos no muro
tento
longe o salto e pulo
dou
nas paredes do muro
duro
não
desisto de forçá-lo
hei
de encontrar um furo
por onde ultrapassá-lo
Poeta da resistência, da liberdade e do sofrimento, Oliveira Silveira foi marcante. Eu, que vivo fazendo perguntas ingênuas, pergunto: como foi que um cara desses não parou na Academia Brasileira de Letras? Aliás, faço outra pergunta: até quando a casa de Machado de Assis será dominada por senhores brancos, alguns sem obra literária?
*Parte da coluna de Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, agosto de 2021
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