Grito de alerta
→ Primeiro você azucrina,
incendeia, enlouquece, não arrefece, diz que não suporta mais e corta a cabeça
da rainha de copas. Depois, enquanto cada corpo arde no meio das chamas
mostradas ao vivo para gozo internacional, você fala mansinho em apaziguar.
→ Primeiro
você vocifera, cospe, vomita, esbraveja, insulta, ofende, odeia e faz uma
cruzada do bem contra o mal. Depois, dizendo-se cansado de guerra, propõe ardentemente
fazer a paz.
→ Primeiro você inventa um pretexto para tomar o poder em nome do combate à corrupção. Depois, com a ladroagem sendo a mesma ou pior, defende que é hora de pensar no bem-estar geral.
→ Primeiro você inventa um pretexto para tomar o poder em nome do combate à corrupção. Depois, com a ladroagem sendo a mesma ou pior, defende que é hora de pensar no bem-estar geral.
→ Primeiro você divide o mundo
entre direita e esquerda, coxinhas e petralhas, modernos e anacrônicos,
capitalistas e comunistas, do bem e do mal. Depois, tendo conseguido o que
tanto queria, fica trancado em casa dizendo-se desencantado com a política e não
ocupa mais as ruas nos domingos e feriados para protestar contra a crise da
ética e a devastação da moral.
Primeiro você chuta o balde, bate panela, usa camiseta amarela, canta a plenos pulmões o Hino Nacional. Depois, enquanto aqueles de deveriam ser seus novos heróis respondem aos tribunais e compram votos para não morrer na fogueira, você silencia e diz que já não há mais ideologias e muito menos as tais utopias.
Primeiro você chuta o balde, bate panela, usa camiseta amarela, canta a plenos pulmões o Hino Nacional. Depois, enquanto aqueles de deveriam ser seus novos heróis respondem aos tribunais e compram votos para não morrer na fogueira, você silencia e diz que já não há mais ideologias e muito menos as tais utopias.
→ Primeiro você pontifica,
milita, excita, especula, denuncia, conjectura, fatura, estrutura, articula,
conspira, inspira, discursa e grita palavras de ordem contra a desordem, a
quebradeira nacional e o desemprego em escala de causar mal-estar no planeta e
todas as tetas, mutretas, retretas e muletas de um país tropical. Depois, sai
correndo alegando não ter mais munição nem vontade de brigar com seus colegas,
amigos e irmãos.
→ Primeiro você busca o conflito, acirra o confronto, responde de bate-pronto, não perdoa, não alivia e vai correndo exigir a partida, a saída, uma única solução. Depois, alegando fadiga, ou estar deprimido, sussurra que a economia respira, a inflação suspira e não importa se no supermercado a conta não fecha, a cesta não enche, a carteira não preenche o necessário, é tudo pura ilusão.
→ Primeiro você busca o conflito, acirra o confronto, responde de bate-pronto, não perdoa, não alivia e vai correndo exigir a partida, a saída, uma única solução. Depois, alegando fadiga, ou estar deprimido, sussurra que a economia respira, a inflação suspira e não importa se no supermercado a conta não fecha, a cesta não enche, a carteira não preenche o necessário, é tudo pura ilusão.
→ Primeiro você acredita piamente
nas provas da delação e sentencia todo adversário de antemão. Depois, você
vacila, oscila e só vê indícios precários onde antes via a certeza da
condenação.
→ Primeiro você faz da avenida passarela e se sente mais bela à frente do pelotão. Depois, depõe as armas, despe a armadura, boceja na cara dura e fica no quarto ruminando, comendo pipoca e vendo novela de televisão enquanto as hordas saqueiam a nação.
→ Primeiro você provoca, evoca, convoca e sai de bandeira na mão. Depois, você considera, pondera e pede cautela. Só fica em fúria se alguém lhe cobrar coerência ou acusá-lo de hipocrisia.
→ Primeiro você faz da avenida passarela e se sente mais bela à frente do pelotão. Depois, depõe as armas, despe a armadura, boceja na cara dura e fica no quarto ruminando, comendo pipoca e vendo novela de televisão enquanto as hordas saqueiam a nação.
→ Primeiro você provoca, evoca, convoca e sai de bandeira na mão. Depois, você considera, pondera e pede cautela. Só fica em fúria se alguém lhe cobrar coerência ou acusá-lo de hipocrisia.
→ Primeiro você alucina,
desatina, vaticina, prevê o caos, a miséria e teme a revolução. Depois, saindo
de cena, andando de costas, recuando de lado, adaptando o letreiro, rasgando o
cartaz, aposta nas reformas e por elas aceita temporariamente a velha
corrupção.
(Juremir Machado da
Silva – no Correio do Povo, agosto de 2017)
Belo texto, cadê a multidão nas ruas, cadê o povo insatisfeito e revoltado com a corrupção,cadê????
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