O segundo grenal da história
Fazia frio naquele domingo do inverno
porto-alegrense de 1910. As páginas esportivas dos jornais destacavam os páreos
do turfe no Hipódromo do Moinhos de Vento.
No dia 17 de julho, no Campo do
Militar, na Várzea, hoje Parque da Redenção, se enfrentavam duas equipes de
foot-ball, o esporte que começava a ganhar espaço na cidade. Era a segunda
edição de um embate que já se anunciava clássico: Grêmio Foot Ball Porto
Alegrense e Sport Club Internacional. O primeiro jogo entre as duas equipes
havia sido um ano antes.
O recém surgido Sport Club
Internacional, criado pelos irmãos Poppe, jovens comerciantes paulistas que
chegaram à Capital em 1908 e montaram uma loja de roupas, ousou desafiar o já
experiente Grêmio.
Criado em 1903, simultaneamente ao
Fussball Club Porto Alegrense, o Grêmio era dos precursores do esporte na
Capital gaúcha. Para o primeiro confronto, a direção gremista oferecera o
segundo time. Os colorados não aceitaram, exigiam o escrete principal. Jogaram.
E o grêmio ganhou de 10 a
0.
O primeiro grenal foi seguido de
confraternização com baile e cervejada noite adentro. Ainda assim, no dia 18 de
julho de 1909, o Correio do Povo trazia uma advertência aos espectadores. “A fim
de evitar factos desagradáveis”, o jornal aconselhava que os espectadores não
se pronunciassem “em favor de um ou de outro team”. Relatava no domingo
anterior ter havido ”lamentável incidente” entre um dos juízes e um grupo de
assistentes, onde foram ouvidas “phrases pouco gentis”. O jornal pedia que o
entusiasmo fosse moderado visto o “grande numero de senhoras e senhoritas, às
quaes não se deve dar o desgosto de testemunhar discussões inconvenientes”.
No segundo grenal já
teve confusão
Nos dias anteriores à revanche,
Antenor Lemos, jogador mediano, porém incentivador da equipe colorada, andava
garganteando nas rodas de conversa na Choperia Bopp, na Praça da Alfândega.
Bradava que era chegada a hora do troco.
O escrete
gremista vinha a campo com Teichmann; Deppermann, Marteu, Bento, Sommer,
Mostardeiro, Geyer, Moreira, Booth, Grünewald e Mostardeiro I.
Do lado colorado jogavam: Lindemayer;
Mendonça, Volksmann, Vinholes II, Kluwe, lemos, Poppe I, Galvão, Gafrê, Chaves
e Vinholes.
O árbitro da
partida era Theobaldo Förnges.
E o Grêmio
ganhou por cinco a zero.
Lá pelas tantas do segundo tempo, o
atleta gremista Edgard Booth, que já havia marcado dois gols, recebeu no meio
de campo, driblou toda a defesa colorada e foi parado a botinada pelo zagueiro
Volksmann. Fechou o tempo e a partida quase foi encerrada a pau.
O jogo valia pela primeira edição do
campeonato da cidade de 1910, contando com sete equipes: 7 de setembro,
Fussball Club Porto Alegre, Frisch Auf, Militar, Nacional (de Santa Catarina),
Grêmio e Internacional.
O futebol começava a crescer em Porto Alegre e a cair
na graça do público. Nestes primeiros grenais já se estima um público de cerca
de duas mil almas. O esporte ganhava também algum espaço na imprensa. Muitos
dos jogos eram disputados no Campo do Militar, na Várzea. O Militar Foot-Ball
Club, campeão daquele ano, era formado por alunos da Escola de Guerra – O
“Velho Casarão da Várzea”, atual Colégio Militar. O campo ficava em frente ao
Casarão, onde hoje passa a avenida José Bonifácio. No ano seguinte, a escola
foi transferida para o Rio de janeiro e o clube, extinto. Em 1909, época da
criação do Sport Club Internacional, surgiam outros clubes dedicados ao “sport
inglez” na cidade.
Militar Foot-Ball Club enfrentando o Grêmio
O Casarão da Várzea, Colégio Militar,
defronte ao qual os jogos eram realizados.
Em 26 de junho, A Federação anunciava
que no dia seguinte, às 3 da tarde, “um grupo de foot-ballers desta capital e
que não se acham filiados a nenhuma sociedade, vão tratar da fundação de um
club de football e da eleição de sua primeira directoria”.
No dia 15 de setembro, foi notícia a
criação do Foot-ball Club Theresópolis. No dia 30 do mesmo mês, o Correio do
Povo noticiava a criação do Centro Sportivo Operário, fundado por “um grupo de
obreiros”. “A primeira de suas secções de sport a inaugurar-se, será a do
foot-ball visto ser o mais preferido pela sociedade porto-alegrense”.
Embora se acredite que o grenal
número 2 tenha sido jogado na Redenção, há controvérsias em relação ao local. O
Campo da Redenção é o local apontado no livro “A História dos grenais”, de
David Coimbra e Nico Noronha e no levantamento “Todos os grenais da História”,
realizado pelo jornal Zero Hora. Entretanto, há fontes que apontam que a
partida tenha sido jogada no Moinhos de Vento, na Baixada, antigo campo do
Grêmio. Em “O FOOT-BALL DE TODOS: Uma história social do futebol em Porto Alegre , 1903 – 1918” , dissertação de
mestrado defendida por Ricardo Santos Soares, na PUC-RS em 2014, há uma tabela,
elaborada a partir de jornais da época, que traz esta informação.
(Do jornal Já Porto
Alegre – agosto de 2017)
Ótimo resgate da nossa história.Parabens.
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