quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Emílio de Menezes, o Último Boêmio



Ilustração de Milton Rodrigues Alves

O historiador pernambucano Manuel de Oliveira Lima era alto e avantajadíssimo gordo. Consideravelmente cheio de banhas. Contraiu núpcias com a Sra. D. Flora Cavalcânti Albuquerque Melo de Oliveira Lima, dotada de fino espírito, porém delgada de corpo, perfazendo violento contraste com o esposo.

Certa tarde, conta o Sr. Elói Pontes, à porta da Confeitaria Castelões, numa roda de amigos, Emílio de Meneses, vendo passar o casal, comentou, risonho e confidencialmente:

– Ali vão a Flora e Fauna brasileiras...

Alguém teve a imprudência de publicar a pilhéria. Oliveira Lima, colérico, escreveu artigo em O Estado de S. Paulo, chamando Emílio de bêbado, vadio e outras coisas injuriosas. A resposta do boêmio foi este soneto:

De carne mole e pele bambalhona
Ante a própria figura se extasia.
Como oliveira – ele não dá azeitona,
Sendo lima – parece melancia.

Atravancando a porta que ambiciona,
Não deixa entrar nem entra. É uma mania!
Dão-lhe por isso a alcunha brincalhona
De “Para-vento da Diplomacia”.

Não existe exemplar na atualidade
De corpo tal e de ambição tamanha,
Nem para intriga igual habilidade.

Eis, em suma, essa figura estranha!
Tem mil léguas quadradas de vaidade
Por milímetro cúbico de banha!

As volumosas enxúdias de Oliveira Lima jamais lhe perdoaram a crueldade da invectiva.

Medeiros de Albuquerque, referindo-se a este soneto, considera-o “um dos melhores trabalhos humorísticos, porque nada tem de injurioso, embora seja malicioso. Fala, apenas, com razão, da vaidade do escritor pernambucano. E essa era infinita”.

Raimundo de Meneses, em “Emílio de Meneses, o Último Boêmio”.


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