→ Este livro conta a viagem que
Pedrinho, Narizinho, Visconde, Quindim e, claro, Emília fazem até o País da
Gramática. Lá eles aprendem a língua portuguesa de um jeito muito divertido,
usando a imaginação e a criatividade. Como? Caminhando pelos bairros da cidade
Portugália, brincando de criar palavras, interjeições, orações e conversando
com as senhoras Etimologia, Sintaxe, Ortografia e muitas outras, que ensinam a
origem e o significado das palavras e como escrevê-las corretamente, formando
frases coerentes e coesas. Como o livro foi lançado pela primeira vez em 1934,
muitas regras e conceitos gramaticais antigos foram atualizados e comentados
para que o leitor de hoje também viaje por esse país.
Exame e Pontuação
Depois de brincarem por algum tempo naquele
jardim de Períodos, e de discutirem novamente a campeação do Visconde, os
meninos resolveram ir ao bairro das Sílabas sherlockar o rapto do Ditongo –
como dizia a Emília.
– Não ainda – propôs Dona Sintaxe. –
Quero correr um exame nos meus alunos. Venham todos cá – e o senhor também, Seu
Rinoceronte.
Os meninos e
o paquiderme perfilaram-se diante da grande dama.
– Muito bem – disse ela. – Vou agora
ver se essas cabecinhas guardaram o que ensinei, e para isso temos que
analisar uma frase.
E
voltando-se para um grupo de frases passeadeiras:
–
Aproxime-se um Período para ser analisado! Depressa!...
Apresentou-se incontinenti aquele
assanhadíssimo Período que dizia assim: Tia
Nastácia faz bolinhos que todos acham muito gostosos.
– Vamos ver,
Emília, quantas Orações há neste Período?
– Duas! – respondeu imediatamente a boneca. –
A primeira é a Principal e a segunda é a Subordinada.
– Muito bem. E qual o Sujeito da primeira,
Pedrinho?
– Tia Nastâcia.
– Muito bem.
E qual o Sujeito da segunda, senhor paquiderme?
– Todos – rosnou o rinoceronte com um
bamboleio de corpo.
– Muito bem.
E qual o Predicado da primeira, Narizinho?
– Faz bolinhos – disse a menina com água na boca, porque estava
chegando a hora do jantar.
– Muito bem.
E qual o Predicado da segunda, Quindim?
– Acham muito gostosos – respondeu o
rinoceronte, lambendo os beiços.
– Muito bem.
E qual o Complemento Verbal da primeira, Emília?
– Bolinhos! – berrou a boneca. – Bolinhos
é o Objeto Direto do Verbo Faz —
quem não sabe disso?
– Muito bem.
E qual o Complemento Verbal da segunda, Pedrinho?
– Que.
– Esse Que a que se refere?
– Refere-se
a Bolinhos.
– Bravos! –
exclamou Dona Sintaxe. – Vejo que não perdi o meu tempo. Podem ir brincar.
Foi uma gritaria, e todos saíram aos
pinotes. Emília espreguiçou-se e Quindim deu uma chifrada no ar, de
brincadeira.
– E agora? –
disse Narizinho. – Ela nos mandou brincar; mas brincar de quê, nesta cidade de
palavras? Uma ideia!... Vamos ver a Pontuação! Onde fica a Pontuação, Quindim?
– Aqui perto, num bazar. Eu sei o
caminho – respondeu o paquiderme.
No tal bazar encontraram os Sinais de Pontuação, arrumados em
caixinhas de madeira, com rótulos na tampa. Emília abriu uma e viu só Vírgulas dentro.
– Olhem que galanteza! – exclamou. –
Vírgulas, Vírgulas e mais Vírgulas! Parecem bacilos do cólera-morbo, que Dona
Benta diz serem virgulazinhas vivas.
Emília
despejou um monte de Vírgulas na palma da mão e mostrou-as ao rinoceronte.
– Essas Vírgulas servem para separar as Orações, as Palavras e os Números –
explicou ele. – Servem sempre para indicar uma pausa na frase. A função delas é
separar de leve.
Emília soprou o punhadinho de
Vírgulas nas ventas de Quindim e abriu a outra caixa. Era a do Ponto e Vírgula.
– E estes,
Quindim, estes casaizinhos de Vírgula e Ponto?
– Esses também servem para separar.
Mas separar com um pouco mais de energia do que a Vírgula sozinha.
Emília
despejou no bolso de Pedrinho todo o conteúdo da caixa.
– E estes
aqui? – perguntou em seguida, abrindo a caixinha dos Dois Pontos.
– Esses
também servem para separar, porém com maior energia do que o Ponto e Vírgula.
Metade
daqueles Dois Pontos foram para o bolso do menino. Emília abriu uma nova caixa.
– Oh, estes eu sei para que servem! –
exclamou ela, vendo que eram Pontos Finais.
– Estes separam duma vez – cortam. Assim que aparece um deles na frase, a gente
já sabe que a frase acabou. Finou-se...
Em seguida
abriu a caixa dos Pontos de Interrogação.
– Ganchinhos! – exclamou. –
Conheço-os muito bem. Servem para fazer perguntas. São mexeriqueiros e
curiosíssimos. Querem saber tudo quanto há. Vou levá-los de presente para Tia
Nastácia.
Depois
chegou a vez dos Pontos de Exclamação.
– Viva! –
gritou Emília. – Estão cá os companheiros das Senhoras Interjeições. Vivem de
olho arregalado, a espantar-se e a espantar os outros. Oh! Ah! Ih!
A caixinha
imediata era a das Reticências.
– Servem
para indicar que a frase foi interrompida em certo ponto — explicou Quindim.
– Não gosto de Reticências – declarou
Emília. – Não gosto de interrupções. Quero todas as coisas inteirinhas – pão,
pão, queijo, queijo – ali na batata! – e, despejando no assoalho todas aquelas
Reticências, sapateou em cima.
Depois abriu
outra caixa e exclamou com cara alegre:
– Oh, estes
são engraçadinhos! Parecem meias-luas...
Quindim explicou que se tratava dos Parênteses, que servem para encaixar
numa frase alguma palavra, ou mesmo outra frase explicativa, que a gente lê
variando o tom da voz.
– E aqui,
estes pauzinhos? – perguntou Emília, abrindo a última caixa.
– São os Travessões, que servem no começo das frases de diálogo para mostrar
que é uma pessoa que vai falar. Também servem dentro duma frase para pôr em
maior destaque uma Palavra ou uma Oração.
– Que graça! – exclamou Emília. –
Chamarem Travessão a umas travessinhas de mosquito deste tamanhinho! Os
gramáticos não possuem o “senso da medida”.
Quindim
olhou-a com o rabo dos olhos. Estava ficando sabida demais...
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