quarta-feira, 14 de junho de 2023

Máximas do Analista de Bagé

 

Desenho de Edgar Vasques 

Charlando que nem china da fronteira. 

Mais ortodoxo que reclame de xarope. 

Mais nervosa que gato em dia de faxina. 

Tão folgado que nem luva de maquinista que qualquer um bota a mão. 

Mais enrolado que linguiça de venda. 

Mais eficiente que purgante de maná e japonês na roça. 

Mais tradicional que caixa de Maizena. 

Mais comprido que bombacha de gringo. 

Mais caro que argentina nova na zona. 

Mais ciumenta que mulher de tenente. 

Mais ortodoxo que suspensório e pastilha Valda. 

Mais antigo que pijama listrado. 

Mais apertado que as classes de baixa renda. 

Mais bisbilhoteiro que filho de empregada. 

Mais duro que ferrá cavalo de estátua. 

Mais apertado que jeans de fresco. 

Tô com goela mais seca que penico de cego. 

Mais ortodoxo que pomada Minâncora. 

De relho, só cavalo aporreado e china respondona. 

Grosso é o intestino que vive dando cagada. 

O último desaforo que levei pra casa foi minha mulher. 

Tá mais cheio de gás que alemão em fim de Kerb. 

Catando angústia como passarinho bicando bosta. 

Pra boato e briga em bolicho, basta um cochicho. 

Gauderiando mais que cigano candidato. 

Sou como china passada, não arreganho convite. 

É esperto que nem gringo de venda. 

Cavalo manso é pra ir à missa. 

Quem trepa vestido é padre e tartaruga. 

Curto como estribo de anão. 

Mate e china, quanto mais novo mais quente. 

Hai mil regras pra comê, mas nenhuma pra cagá. 

Gengiva não morde, mas segura os dente. 

Pra besteira e financiamento do Banco do Brasil, sempre se arranja um jeito. 

Se todo mundo fosse gaúcho, ser gaúcho não seria vantagem. 

Engraçado é gorda botando as calça. 

O gaúcho é o que é porque a bombacha dava espaço. 

Tive uma infância normal de interior: o que não aprendi no galpão, aprendi atrás do galpão. 

Pra segurá mulher em casa e cavalo no campo, só carece de um pau firme. 

Mais prestimosa que mãe de noiva em dia de casamento. 

Mais por fora que joelho de escoteiro. 

Mentindo mais que guri pra entrar em baile. 

Mais rápido do que enterro de pesteado. 

Mais bagunça que espirro em farofa. 

Mais comentada que vida de manicure. 

Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira. 

Roda de carreta chega cantando e se vai gemendo. 

Bravateiro como castelhano em chineiro. 

Sujo como pé de guri. 

Branco como catarina assustado. 

Duro como trança de beata. 

Mais vale ser touro brocha que boi tesudo. 

Pra guaipeca, pontapé é mimo. 

Mais sagrado que Deus e a mãe, só dívida de jogo. 

Se a toca é ancha, o tatu é gordo. 

Pela cabeleira, o julgamento é canhestro: pode ser china ou maestro. 

 Mais triste que tia em baile. 

Cavalo de borracho sabe onde o bolicho dá sombra. 

A gengiva não morde, mas segura os dente. 

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Do livro:

“Todas as Histórias do Analista de Bagé”,

de Luis Fernando Veríssimo.

 

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