Luís Fernando Veríssimo
Um dia, todos os computadores do mundo estarão ligados num único e definitivo sistema, e o centro do sistema será a cidade de Duluth, nos Estados Unidos. Toda a memória e toda informação da humanidade estarão no Último Computador. As pessoas não precisarão mais ter relógios individuais, calculadoras portáteis, livros, etc. Tudo o que quiserem fazer – compras, contas, reservas – e tudo o que desejarem saber estará ao alcance de um dedo. Todos os lares do mundo terão terminais do Último Computador. Haverá telas e botões do Último Computador em todos os lugares frequentados pelo homem, desde o mictório ao espaço. E um dia, um garoto perguntará ao pai:
− Pai, quanto é dois mais dois?
− Não pergunte a mim, pergunte a Ele.
O garoto apertará o botão e, num milésimo de segundo, a resposta aparecerá na tela mais próxima. E, então, o garoto perguntará:
− Como é que eu sei que isso está certo?
− Ora, ele nunca erra.
− Mas se desta vez errou?
− Não errou. Conte nos dedos.
− Contar nos dedos?
− Uma coisa que os antigos faziam. Meu avô me contou. Levante dois dedos, depois mais dois... Olhe aí. Um, dois, três, quatro. Dois mais dois quatro. O Computador está certo.
− Bacana. Mas, pai. E 363 mais 17? Não dá para contar nos dedos. Jamais vamos saber se a resposta do Computador está certa ou não.
− É...
− E se for mentira do Computador?
− Meu filho, uma mentira que não pode ser desmentida é verdade.
− Quer dizer, estaremos irremediavelmente dominados pela técnica, mas sempre sobrará a filosofia.
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