segunda-feira, 19 de junho de 2023

Nomofobia

 Juliana Bublitz

Nomofobia. Do inglês, “nomophobia”, acrônimo de “no mobile phone phobia”. Sim. Já existe uma palavra para isso: o medo de ficar sem o telefone celular. O termo surgiu no Reino Unido, em 2008, quando a coisa toda estava só começando. De lá para cá, o smartphone virou um vício e uma espécie de extensão do corpo humano. 

Sei, você está aí pensando: “Pfff... que bobagem”. Vou provar que não é exagero. 

Corta para a cena 1: 

Você caminha em uma rua movimentada, de um centro urbano qualquer. Em algum momento, vai topar com ele: o zumbi do celular. 

Ele caminha com a cabeça baixa, olhos fixos no visor, polegar movendo-se nervosamente na tela, de baixo para cima. Ele não te vê. Ele não vê ninguém. Caminha como se não estivesse de fato ali. Parece alheio ao mundo ao redor. Pode até cair em um buraco ou morrer atropelado na próxima esquina. Mas não, ele não larga o telefone. 

Cena 2: 

Restaurante bacana, luz baixa, MPB tocando baixinho. Casais animados, conversando, rindo, comendo batatas rústicas, bebericando seus chopes cremosos, como diria meu amigo David Coimbra.* Ah, os chopes... Epa, como assim? Algo não se encaixa no roteiro. 

Nas mesas ao redor, você vê pessoas sentadas juntas, mas separadas por telas − o que o mestre Nilson Souza* descreve como “encontro de solidões”. Cada um no seu quadrado, ou melhor, no seu smartphone. 

− Tem tomada? − pergunta a moça ao garçom. 

A luz azulada reflete nos rostos de olhos vidrados. O cúmulo dos cúmulos: eles conversam entre si pelo WhatsApp. Se cair o WiFi, já era. Acabou o encontro. 

Ok, ok, você vai me dizer que nunca teve um desses aparelhos e que jamais, never, nunquinha, cogitou baixar o tal aplicativo de mensagens, quanto mais abrir uma conta no TikTok ou no Instagram. É, pode ser. Mas, sejamos francos, você não está livre desse mundo distópico, porque os zumbis do celular, ah, eles estão por toda parte − no supermercado, na farmácia, na padaria da esquina. 

Na sua família. 

Não é à toa que o psicólogo espanhol Marc Masip insiste em afirmar que “o celular é a heroína do século21”. Curtidas, likes e joinhas tornaram-se injeções cavalares de dopamina, o neurotransmissor do prazer. Viciar é fácil. Basta uma boa conexão à internet. 

Custamos a entender, se é que de fato entendemos, que os algoritmos se encarregam de tudo, inclusive, de nos meter em bolhas de desinformação, teorias da conspiração e mecanismos que nos tornam dependentes as redes sociais. O sistema é feito para isso e até já contribuiu para a ascensão meteórica de alguns “mitos” − Donald Trump e Jair Bolsonaro que o digam. 

Não, não, não vou entrar em polêmica. Quero falar é do desafio lançado por Douglas Rushkoff. 

(...) 

Rushkoff, que virá a Porto Alegre em setembro (2023), para participar do Fronteiras do Pensamento, sugere que fiquemos ao menos um dia por semana longe das telas, para voltar a olhar as pessoas nos olhos, para viver uma vida real outra vez, e, quem sabe, para recuperar a sanidade perdida. 

Você consegue? 

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(Do jornal Zero Hora, junho de 2023) 

* Jornalista de Zero Hora, (já falecido);

* Colunista de Zero Hora

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