quinta-feira, 11 de abril de 2024

Ensinado, muito aprendi.

 Carlos Alberto Veit 

“Feliz aquele que transfere o que sabe

e aprende o que ensina.” 

Cora Coralina

01. Não transmita só o conteúdo da matéria. 

Conhecer e dominar a matéria é essencial, mas o bom professor vai além da transmissão do conteúdo propriamente dito. Aliás, o conhecimento básico pode também ser encontrado em livros, em sites da internet e por aí vai. 

O bom professor também sabe transformar o conteúdo da matéria em conhecimento para a vida. Como? Dando exemplos, dialogando, valorizando a experiência dos alunos, ilustrando com acontecimentos atuais etc. 

02 Não importa tanto o que você diz, mas como você diz. 

Isso vale também para os pais. Falar sobre disciplina, por exemplo, pode soar como algo autoritário. No entanto, se as regras de convívio em sala de aula, assim como o conteúdo, forem colocadas de forma explicativa e não impositiva, tudo pode ser absorvido de forma mais eficiente e suave. 

03. Alunos também buscam modelos de identificação para enfrentar a vida. 

Entre as centenas de professores que eu tive, de nem todos eu recordo o conteúdo da matéria, mas a postura deles como pessoa me acompanha até hoje. Nem todos os alunos têm pais presentes ou amigos mais experientes, então é quase natural que eles se espelhem em figuras de autoridade que percebem que querem o bem deles. 

04. Seja bondoso, mas não bonzinho. 

Não seja intolerante nem tolerante demais, busque sempre o equilíbrio. Justiça faz parte do processo de avaliação. Ser permissivo demais com os maus alunos é uma forma de desestimular os bons alunos. O mau professor é generalista e tende a dar uma nota igual ou parecida para todos os alunos. Assim ele passa todos e não se incomoda. 

05. O professor também aprende. 

Sempre que imagino como eu era quando iniciei no magistério, eu percebo como cresci como pessoa exercendo essa atividade. Não há como ficar imune a tantas trocas de experiências de vida. Para quem tem sensibilidade e está atento ao que acontece no dia a dia, o ambiente escolar e universitário, seja em que nível for, está repleto de oportunidade de aprendizado também para a vida. 

06. Um aluno pode ser transformar em amigo. 

Existe uma misteriosa conexão entre as pessoas, tanto para afastá-las como para aproximá-las. Em relação às pessoas que nos atraem e se sentem atraídas por nós, pode haver alunos. Em algumas instituições essa amizade pode ser malvista, mas se houver ética entre professor e aluno, a amizade pode perdurar para depois do término das aulas e continuar pela vida afora. 

07. Permanente atualização. 

Antigamente parecia ser mais fácil esta atualização. O aprendizado era basicamente feito por livros. Atualmente, os alunos trazem informações sempre novas, pedindo confirmação ou explicação sobre as mesmas. O professor também tem que estar em sintonia com os sites, redes sociais e tudo o mais que possa servir de informação para os alunos. 

08. Não espere agradas a todos. 

Como bem diz o ditado popular, nem Jesus agradou a todos. O aluno tem liberdade de não gostar da matéria que eu leciono ou de modo como eu transmito. Isso, obviamente, não lhe dá o direito de ser desrespeitoso. 

Se possível, temos que entender a fase da vida que cada aluno está passando. Sei que isso pode ser muito difícil se houver uma quantidade grande de alunos, mas não deixa de ser uma meta. 

Às vezes, a oposição e as críticas de um determinado aluno não são tão motivadas pelo professor, mas sim pela faixa etária em que ele se encontra ou pelas dificuldades que ele tem no âmbito familiar. 

Assim como gostamos de elogios também temos que aceitar as críticas, sabendo que é a diversidade de opiniões que nos motiva a aprimorarmos sempre mais o nosso agir. 

09. O magistério pode ser um apostolado. 

O apostolado não se faz só dentro da igreja. Como bem disse São Francisco de Assis: “Pregue sempre o Evangelho. Se necessário, use palavras.” 

Nem só as palavras convertem. Uma postura ética, digna e acolhedora pode ensinar muito aos que estão em busca de um caminho de Luz. Essa atração pode ser o primeiro passo que um aluno vai dar para prosseguir na sua evolução espiritual. 

10. Ser bem lembrado é uma forma de ser amado. 

Todos nós gostamos de ter nosso trabalho reconhecido, mas são poucas as pessoas que exercem a nobre virtude da gratidão. 

Mesmo quando Jesus curou os dez leprosos (Lucas 17,11-19), somente um voltou para agradecer. O próprio mestre indagou: “Acaso os dez não foram todos purificados? E os outros nove, onde estão?” 

Hoje, eu procuro não perder a oportunidade de agradecer a cada pessoa que me fez mal ou me fez bem, e quando algum aluno lembra da gente com carinho, certamente é uma bênção que nos faz sentir amados. 

11. Magistério é mais que profissão: É missão. 

Eu me preocupo com tantos jovens procurando orientação profissional e se esquecendo da orientação vocacional. Não são a mesma coisa. 

Na primeira, geralmente se busca as aptidões da pessoa e em qual profissão há mais chance de ganhar muito dinheiro, ter sucesso ou até ficar famoso. Nem sempre tudo isso é que satisfaz o coração humano. 

Dificilmente alguém ficará rico exercendo o magistério. Eu, ao menos, não conheço ninguém que obteve essa façanha. No entanto, o magistério é uma das profissões onde há maior possibilidade de uma grande realização pessoal. Não estamos apenas transmitindo conhecimento; estamos ajudando a orientar vidas! 

12 “Aquilo que você mais sabe ensinar é o que você mais necessita aprender”. 

Sempre que eu lia essa frase de Richard Bach eu ficava sem entender muito bem. Pensava, pensava e dizia para mim mesmo: Será que mesmo assim? 

Atualmente, eu estou bem mais inclinado a concordar com o autor. Afinal, sempre gostei de Filosofia, de Teologia e de Psicologia Humanista, ou seja, áreas do conhecimento que geralmente questionam e refletem sobre o sentido da vida. 

Quer assunto mais importante do que esse? Para mim, é a temática central que me move em busca de mais conhecimento e do que eu mais transmito em minhas aulas. 

Com tantos aspectos bons derivados do exercício do magistério, só tenho a agradecer a Deus por ter me feito professor e posso encerrar esse artigo com o título que lhe dei:  Ensinado, muito aprendi! 

(Artigo da revista Rainha dos apóstolos, outubro de 2020)

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