terça-feira, 2 de abril de 2024

Sinais do Universo

 Bruna Lombardi

Sou dessas pessoas que prestam atenção em todos os sinais do Universo, e sempre que me distraio ou passo batido as coisas se organizam e dão um jeito pra que fique bem claro o recado. 

Estar atento aos sinais é manter um diálogo constante, uma escuta permanente, um olhar renovado para tudo o que passaria despercebido. O que poderia parecer desimportante. Detalhes onde Deus se manifesta. 

Acontecimentos se sucedem e acreditamos ou não na sua lógica, nem sempre aparente. E muitas vezes não conseguimos compreender a causa e efeito por trás de cada ação, cada escolha, cada decisão. 

Continuo com perplexidade de criança diante de cada acontecimento. È sempre uma surpresa, sempre fico espantada com a dimensão da conversa com o invisível e maravilhada de ver como tudo se encaixa e se explica. 

Aprendi a lidar cedo com o mistério. A compreender como ele se manifestava em todas as coisas e como sussurrava para mim em forma de poesia. 

Escrever ou ler poesia é abrir esse canal de percepção, receber essa música que não toca, mas que transmite uma melodia silenciosa dentro de um portal secreto. Essa é com certeza uma das mais belas revelações do Universo. 

As mensagens estão no ar, pega quem quer. As ideias estão em movimento no silêncio, assim como os sinais. E se ninguém se aproxima, se ninguém as percebe e as recolhe, elas ficam lá esquecidas, se embaralham com outras ideias e novos sinais e tudo se misturam criando confusão e caos. 

Quem considera seu caminho confuso demais é porque não está se dando ao trabalho de pegar essas pequenas centelhas brilhantes, que cintilam no ar, para poder cuidas delas. Não está dando a cada um rumo, um destino, um propósito. Deixou essa beleza se perder pra sempre como se ela nunca tivesse existido. 

O mesmo deve acontecer com a música. Quem a compôs teve a percepção dessas notas musicais que flutuavam invisíveis no espaço e as captou através de um canal particular. Se tivesse deixado lá as notas em movimento, aflitas para serem notadas, reconhecidas, tocadas, elas provavelmente se misturariam com outros ruídos e suas melodias se perderiam. 

Sempre penso nisso. Tantos poemas se perdem porque ninguém os escreve os escreve, tantas músicas se evaporam porque ninguém as compôs, tantas ideias se foram porque ninguém as materializou de alguma forma. 

Pode algo existir sem ser percebido? Esse é um conceito que atravessa a filosofia desde George Berkeley, e a mesma pergunta foi refeita de infinitas maneiras. 

Olho para o lado mágico do Universo, onde habitam os segredos que não sabemos, o que ainda não desvendamos, o mistério que não foi descoberto. Nesse espaço, a energia das coisas imateriais dança no ar, à espera de ser captada. Os sinais do Universo se movimentam precisos, com a mesma felicidade que sentimos ao tocar cada um através da sutil percepção dos nossos sentidos. Quando conseguimos, entramos no estado de êxtase da criação. 

Tudo é simples e existe apenas o milagre de perceber aquilo que sempre esteve em volta de nós. 

(Do caderno Vida, de Zero Hora, março de 2024)

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