domingo, 28 de abril de 2024

Fé no Funk

 

O que o funk tem a ver com a fé brasileira? O gênero musical começa a se delinear na década de 1960 nos Estados Unidos, a partir de músicos negros dispostos a cruzar a referência do soul, do jazz e do rhythm and blues. De forma resumida, o funk se caracteriza pelo ritmo de batidas repetitivas sincopado, de caráter altamente percussivo e dançante. 

O Rio de Janeiro criou um funk próprio, carioca, distinto daquele que veio se estruturando nos Estados Unidos, ainda que beba na fonte dele. Misturando um caldeirão sonoro de referências da black music, com letras que tematizam os diversos aspectos do cotidiano nas favelas e periferias cariocas, o funk do Rio tem também, em suas vertentes, influências de batuques oriundos das rodas de samba e dos atabaques sagrados das umbandas e candomblés. 

Ouvidos mais atentos podem perceber que o alujá de Xangô, ritmo rápido e contínuo tocado para o orixá do fogo, e o toque de congo, característico das casas de candomblé de Angola e da umbanda, estão potencialmente diluídos no caldeirão sonoro do tamborzão funkeiro, misturados às batidas repetitivas do rap, do freestyle e dos miamibass dos sons negros norte-americanos. É como se a memória sonora da cidade, profundamente marcada pelos sons saídos da África e aqui redefinidos, gritasse a ancestralidade nos bailes que balançam o Rio de Janeiro e os corpos cariocas. 

Curiosidade 

Na primeira década do século XXI, o passinho passou a se popularizar como uma nova maneira de se dançar o funk carioca. Concursos entre dançarinos, as batalhas do passinho passaram a mobilizar comunidades em torno de seus dançarinos e dançarinas. No Carnaval carioca de 1997, a Unidos do Viradouro, apresentando o enredo “Trevas, luz: a explosão do universo”, trouxe como grande novidade uma batida de funk no refrão do samba-enredo, realizada pelos ritmistas da bateria do mestre Jorjão. A agremiação foi a grande vitoriosa do carnaval daquele ano. 

(Do livro “Almanaque Brasilidades”, de Luiz Antonio Simas)

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