Porquinho-da-índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria
estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais
limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do
fogão.
Não fazia caso nenhum das
minhas ternurinhas...
‒ O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Tema e variações
Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.
Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.
Sonhei ter sonhado…
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado.
Estar com você.
Estar? Ter estado.
Que é tempo passado.
Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.
Andorinha
Andorinha lá fora está
dizendo:
‒ Passei o dia à toa, à toa!
Andorinha, andorinha, minha
cantiga é mais triste!:
‒ Passei a vida à toa, à toa.
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. É considerado como parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil. Seu poema “Os Sapos” foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna.
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