de Amado Nervo
En paz
Muy cerca de mi ocaso, yo te
bendigo, Vida,
porque nunca me diste ni
esperanza fallida
ni trabajos injustos, ni pena
inmerecida.
Porque veo al final de mi
rudo camino
que yo fuí el arquiteto de mi
propio destino;
que si extraje las mieles o
la hiel de las cosas
fué porque en ellas puse hiel
o mieles sabrosas:
cuando planté rosales,
coseché siempre
Cierto, a mis lozanías va a
seguir el invierno;
¡mas tu no me dijiste que
Mayo fuese eterno!
...Hallé sin duda largas las
noches de mis penas;
mas no me prometiste tú solo
noches buenas;
y en cambio tuve algunas
santamente serenas...
Amé, fuí amado, el sol
acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos em paz!
Em paz
Já bem perto do ocaso, eu te
bendigo, ó vida,
porque nunca me deste
esperança mentida,
nem trabalhos injustos, nem
pena imerecida.
Porque vejo, ao final de tão
rude jornada,
que a minha sorte por mim
mesmo traçada;
que, se extraí os doces méis
ou o fel das cousas,
foi porque as adocei ou as
fiz amargosas:
quando eu plantei roseiras,
eu colhi sempre rosas.
Decerto, aos meus ardores,
vai suceder o inverno:
mas tu não me disseste que
maio fosse eterno!
Longas achei, confesso,
minhas noites de penas;
mas não me prometeste noites
boas, apenas,
e em troca tive algumas
santamente serenas...
Fui amado, afagou-me o Sol.
Para que mais?
Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!
*******
Amado Nervo: México,
1870-1919.
Obras: Poemas, 1901; Serenidad, 1914; Elevación, 1916;
Plenitud, 1918;
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