domingo, 31 de dezembro de 2023

Era uma vez...

 

Esta história se passa há cerca de 5 mil anos em algum lugar do Oriente Médio. 

Um pequeno vilarejo com 10 ou 12 casas de pedras pardacentas. As casas estão dispostas em círculos e uma delas, com um grande pórtico, se destaca por seu tamanho. No interior da casa está o Comerciante 1 sentado numa cadeira talhada em pedra com vários ornatos. Ele tem uns 40 anos e usa uma túnica colorida sobre os ombros. Os cabelos, muito bem penteados, saem-lhe de uma espécie de chapéu. Ele parece preocupado. 

A seus pés, está sentado o Escriba 1. Sobre as coxas do Escriba 1 há um bloco de argila úmida. Com uma das mãos ele segura um pedaço de madeira do tamanho de um lápis moderno. Um pouco mais afastado, encontra-se o Mensageiro. 

O Comerciante 1 fala enquanto o Escriba 1 faz marcas sobre a argila usando o pedaço de madeira, o estilo. 

Depois que o bloco de argila está cheio de marcas em forma de animais e de cunhas, o Comerciante 1 se cala. O Escriba 1 olha com atenção para o bloco de argila durante alguns segundos e fala alguma coisa. O Comerciante 1 faz um aceno concordando. Isso se repete três ou quatro vezes. 

O Comerciante 1 chama o Mensageiro que se aproxima e recebe do Escriba 1 o bloco de argila. O Mensageiro guarda o bloco de argila com muito cuidado em uma espécie de embornal ou bruaca que ele prende às costas e sai. 

Meio do deserto. Sol escaldante. 

O Mensageiro está montado num enorme animal desajeitado e muito feio a que chamam de Camelo. Eles estão com pressa, pois têm pela frente uma longa jornada através de uma trilha tortuosa. 

Depois de muito andar, o animal para em frente a uma casa enorme, talvez um Palácio. O Mensageiro desce do animal, o entrega ao Guardador de camelos e entra no palácio subindo por uma imensa escadaria de pedras avermelhadas. 

No interior do palácio, o Mensageiro percorre várias salas vazias. 

Finalmente, o Mensageiro chega a uma sala cheia de colunas e com poucos móveis. Ao fundo da sala, está o Comerciante 2. Ele é jovem, tem uns vinte e poucos anos. (Ele se passa por comerciante, mas na verdade é o chefe de uma quadrilha de saqueadores de caravanas e traficantes de ópio. Inteligente e hábil, logo se transformará em um Monarca respeitado por todos. Ainda hoje, seus descendentes se orgulham dele.). 

O Comerciante 2 está sentado numa grande cadeira cheia de ornatos. Ele tem um ar arrogante e desabusado, está sem camisa e segura um copo de vinho. Ao lado dele, de pé, está o Sábio conselheiro um homem muito sagaz, de longas barbas brancas, de olhos brilhantes e perspicazes que observa atentamente tudo o que se passa na sala. Próximo aos pés do Comerciante 2, está sentado o Escriba 2. 

O Mensageiro entra na sala, faz uma reverência, entrega o bloco de argila ao Comerciante 2 e se afasta. O Comerciante 2 repassa o pedaço de argila ao Escriba 2. O Escriba 2 olha o pedaço de argila por uns instantes e fala alguma coisa para o Comerciante 2. Isso se repete três ou quatro vezes. O Comerciante 2 fica a meditar. Parece inquieto com o que acabou de ouvir. 

Passado algum tempo, o Comerciante 2 acena para o Escriba 2 e começa a falar. Enquanto o Comerciante 2 fala, o Escriba 2 faz marcas em um bloco de argila que ele tem sobre as coxas. Ele usa um pedaço de madeira, o estilo, para fazer as marcas. Depois que o bloco de argila está cheio de marcas em forma de animais e de cunhas, o Comerciante 2 se cala. O Escriba 2 olha com atenção para o bloco durante alguns segundos e fala alguma coisa. O Comerciante 2 faz um aceno concordando. Isso se repete três ou quatro vezes. 

O Sábio Conselheiro observa cada detalhe do que ocorre na sala. Ele olha para o Comerciante 2, olha para o Escriba 2, olha para o bloco de argila, balança a cabeça com um ar de desagrado e reprovação e murmura: 

- Isso não vai dar certo... Um dia, esses blocos de argila vão provocar isolamento social e problemas psicológicos em muita gente... 

(Autor desconhecido)

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