segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Afinal, existe receita para a felicidade?

 Monja Coen Roshi*

Saúde física, mental, social, ambiental, espiritual... É preciso tudo isso para ser feliz? E quem está doente, não pode ser feliz? Será que a felicidade está relacionada com fama, riqueza, beleza e vitalidade? Ou há um estado de contentamento com a existência que transcende até mesmo o bem-estar em todos os aspectos da vida? O que significa ser feliz? Ou seria melhor dizer “estar feliz”? “Ser” dá a impressão de um estado contínuo. “Estar” é impermanente. A vida é impermanente. Não há nada fixo. Nem mesmo o personagem que criamos para sobreviver. Mudamos o tempo todo. Está tudo se transformando e fluindo. Transpomos as barreiras do eu e do outro. E, mesmo assim, há um dentro e um fora ‒ eu e você. Somos semelhantes, e não iguais. Podemos reconhecer em cada pessoa o seu potencial. Como fazer com que o maior número de pessoas desperte para a mente clara, lúcida, brilhante e terna? A tranquilidade é simultânea ao despertar. Como estar presente no agora se, ao escrever, já estou em outro momento? O que é um instante de felicidade? Já aconteceu de você entrar em seu quarto e sentir a alegria do silêncio na solitude? Diferente da solidão, de se sentir só e incompreendida, solitude é escolha de estar a sós, de apreciar a própria companhia. Entretanto, quando despertamos, percebemos que estamos sempre em nossa própria companhia ‒ todos e todas, tudo que é, foi e será são manifestações do sagrado que nos habita e no qual habitamos. Então, por um instante, tente se sentir pleno, sem necessidade de fazer nada. Mesmo que haja dificuldades, problemas, questões a serem superadas. Permita que tudo cesse e você, simplesmente, desfrute um instante silencioso e tranquilo. O estado de quietude. A paz, pode acompanhar você no meio da festa, do show, da confusão do trânsito, do metrô, da briga e do diagnóstico temido... Em todo lugar e em qualquer. 

Felicidade também tem a ver com doar, cuidar, querer bem. Apreciar a vida. Cada instante sagrado. Respire conscientemente e seja feliz. Mas cuidado! Há a possibilidade de você se enganar ou querer aparentar estar sempre bem e procurar o que nas redes sociais parece felicidade. Essa pressão por uma positividade extrema gera felicidade tóxica. Será que precisamos estar sempre sorrindo, brincando, dançando, demonstrando um estado de alegria? Precisamos esconder nossas dúvidas e medos ‒ ou reconhecê-los e transmutá-los? 

Buda dizia que “Quem conhece o contentamento é feliz mesmo dormindo no chão” e quem não  conhece o contentamento é infeliz mesmo em um palácio celestial”. Você conhece o contentamento com a existência ou vive descontente, reclamando, resmungando? 

Atenção! Hábitos podem se tornar vícios. Podemos nos viciar nas redes sociais, nos algoritmos que nos dão instantes de ternura, e deixamos de brincar com nosso cãozinho, pois nos deleitamos com os das telas. 

É tempo de despertar, de conviver, de aproveitar as conexões reais, de ter pausas para apreciar a própria vida. Assim é que é. 

 (Da revista Veja Saúde, agosto de 2025)

*Monja Coen Roshi é missionária oficial da tradição Soto Shu, com sede no Japão, e coautora do livro Ser Feliz: É Possível? (Papirus 7 Mares), escrito em parceria com Gustavo Arns.

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