sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Batalhão Sagrado



Luís Alves de Lima e Silva
(Duque de Caxias)

Alcy Cheuiche*

No dia 7 de abril de 1831, o Imperador D.Pedro I foi obrigado a abdicar e abandonar o Brasil. Por essa razão, até hoje recordamos essa data em algumas ruas e naquele lindo teatro de Pelotas. Dizem que o ex-Imperador mal olhou para trás quando sua nau deixou o Rio de Janeiro. Na sua cabeça já estava estabelecido o plano de retomar o trono de Portugal e uni-lo outra vez ao Brasil. De fato, depois de muitas peripécias, chegou a ser coroado D.Pedro IV, mas não tardou a morrer. Ficou em Lisboa uma estátua sua, que todos os brasileiros estranham quando a veem pela primeira vez. Desde crianças tínhamos aprendido a reconhecê-lo pelo rosto sem barbas e ali está ele barbudo como D.Pedro II.

Este coitado tinha apenas cinco anos naquele 7 de abril de 1831 e quase por um milagre conseguiu ascender ao trono. E o artífice maior desse feito, hoje a história reconhece, foi Luiz Alves de Lima e Silva, seu professor de esgrima desde os sete anos de idade. Major naquela época, reconhecido como um dos mais brilhantes oficiais do Exército Brasileiro, o futuro Duque de Caxias apegou-se ao menino e jurou-lhe fidelidade para toda a vida. D. Pedro II, que recebeu a maioridade com apenas quatorze anos para que pudesse reinar, também transferiu para Caxias muito de seu afeto filial. E devemos à coroa de D.Pedro II e à espada de Caxias a incrível unidade territorial brasileira. Inclusive a recuperação do Rio Grande do Sul, cuja perda era praticamente aceita pela regência até 1840. Tudo isso que acabo de contar, salvo talvez o fato de que Caxias foi professor de esgrima do Imperador menino, é do conhecimento da maioria dos brasileiros mais cultos. Mas o que poucos sabem é o fato de que Caxias, nos dias que antecederam o golpe contra D. Pedro I, colocou-se a seu lado para defendê-lo. Seu argumento, inclusive contra o pai, General Francisco de Lima e Silva, futuro Regente do Império, foi o de que o Brasil cairia em um vazio de poder no momento em que D. Pedro I deixasse o país.

E foi o que realmente aconteceu, principalmente no Rio de Janeiro. Contam os cronistas da época, que era tal o número de desertores das Forças Armadas, que a polícia não tinha condições de combatê-los e os criminosos tomaram conta da capital. As famílias ficavam trancadas em suas casas, enquanto ladrões, assassinos e estupradores percorriam impunemente as ruas praticando os crimes mais hediondos. E foi então que o Major Luiz Alves de Lima e Silva resolveu reagir.

Quase todas as noites, durante alguns meses, o futuro Patrono do Exército percorreu as ruas do Rio de Janeiro no comando de um grupo de oficiais dispostos a enfrentar os criminosos. Usando as espadas para escorraçar os ladrões e armas de fogo para matar os assassinos à solta, conseguiram os integrantes desse grupo de voluntários a façanha de devolver a paz às ruas do Rio de Janeiro. E pareceu ao povo tão incrível aquele feito, que os cariocas chamavam o grupo de militares pelo nome de Batalhão Sagrado.

Penso nisso quando o Rio de Janeiro está outra vez nas mãos dos bandidos, desta vez melhor armados e até mancomunados com uma parte da polícia, e alguns consideram que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não devem tomar parte ativa nessa guerra civil. É claro que não se deve mandar às ruas conscritos de dezoito anos que estão apenas em treinamento militar. Mas tropas profissionais, como as que se encontram no Haiti com a mesma finalidade, podem e devem servir a Pátria em qualquer trincheira. Se Caxias fosse major e tivesse trinta anos, seguramente assumiria o comando deste novo Batalhão Sagrado.

*Escritor do Rio Grande do Sul


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