No dia 7 de abril de 1831, o
Imperador D.Pedro I foi obrigado a abdicar e abandonar o Brasil. Por essa
razão, até hoje recordamos essa data em algumas ruas e naquele lindo teatro de
Pelotas. Dizem que o ex-Imperador mal olhou para trás quando sua nau deixou o
Rio de Janeiro. Na sua cabeça já estava estabelecido o plano de retomar o trono
de Portugal e uni-lo outra vez ao Brasil. De fato, depois de muitas peripécias,
chegou a ser coroado D.Pedro IV, mas não tardou a morrer. Ficou em Lisboa uma
estátua sua, que todos os brasileiros estranham quando a veem pela primeira
vez. Desde crianças tínhamos aprendido a reconhecê-lo pelo rosto sem barbas e
ali está ele barbudo como D.Pedro II.
Este coitado tinha apenas cinco anos
naquele 7 de abril de 1831 e quase por um milagre conseguiu ascender ao trono.
E o artífice maior desse feito, hoje a história reconhece, foi Luiz Alves de
Lima e Silva, seu professor de esgrima desde os sete anos de idade. Major
naquela época, reconhecido como um dos mais brilhantes oficiais do Exército
Brasileiro, o futuro Duque de Caxias apegou-se ao menino e jurou-lhe fidelidade
para toda a vida. D. Pedro II, que recebeu a maioridade com apenas quatorze
anos para que pudesse reinar, também transferiu para Caxias muito de seu afeto
filial. E devemos à coroa de D.Pedro II e à espada de Caxias a incrível unidade
territorial brasileira. Inclusive a recuperação do Rio Grande do Sul, cuja
perda era praticamente aceita pela regência até 1840. Tudo isso que acabo de
contar, salvo talvez o fato de que Caxias foi professor de esgrima do Imperador
menino, é do conhecimento da maioria dos brasileiros mais cultos. Mas o que
poucos sabem é o fato de que Caxias, nos dias que antecederam o golpe contra D.
Pedro I, colocou-se a seu lado para defendê-lo. Seu argumento, inclusive contra
o pai, General Francisco de Lima e Silva, futuro Regente do Império, foi o de
que o Brasil cairia em um vazio de poder no momento em que D. Pedro I
deixasse o país.
E foi o que realmente aconteceu,
principalmente no Rio de Janeiro. Contam os cronistas da época, que era tal o
número de desertores das Forças Armadas, que a polícia não tinha condições de
combatê-los e os criminosos tomaram conta da capital. As famílias ficavam
trancadas em suas casas, enquanto ladrões, assassinos e estupradores percorriam
impunemente as ruas praticando os crimes mais hediondos. E foi então que o
Major Luiz Alves de Lima e Silva resolveu reagir.
Quase todas as noites, durante alguns
meses, o futuro Patrono do Exército percorreu as ruas do Rio de Janeiro no
comando de um grupo de oficiais dispostos a enfrentar os criminosos. Usando as
espadas para escorraçar os ladrões e armas de fogo para matar os assassinos à
solta, conseguiram os integrantes desse grupo de voluntários a façanha de
devolver a paz às ruas do Rio de Janeiro. E pareceu ao povo tão incrível aquele
feito, que os cariocas chamavam o grupo de militares pelo nome de Batalhão
Sagrado.
Penso nisso quando o Rio de Janeiro
está outra vez nas mãos dos bandidos, desta vez melhor armados e até
mancomunados com uma parte da polícia, e alguns consideram que o Exército, a
Marinha e a Aeronáutica não devem tomar parte ativa nessa guerra civil. É claro
que não se deve mandar às ruas conscritos de dezoito anos que estão apenas em
treinamento militar. Mas tropas profissionais, como as que se encontram no
Haiti com a mesma
finalidade, podem e devem servir a Pátria em qualquer trincheira. Se Caxias
fosse major e tivesse trinta anos, seguramente assumiria o comando deste novo
Batalhão Sagrado.
*Escritor do Rio Grande do Sul
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