domingo, 3 de abril de 2022

Advogado novo no velho Oeste

 

Cidadezinha do faroeste americano, caçada do ouro, aquelas coisas, tudo muito longe, um sol danado, mulher nenhuma. Pois chegou um advogadozinho novo pra cidade pra quebrar o galho do pessoal que trabalhava nas minas e foi ficando por ali, ficando, ficando, até que reparou que lá já não estava podendo dormir direito, tinha de tomar uns dez banhos frios por dia, aquelas coisas. Ele já estava subindo pelas paredes pela total abstinência sexual. 

Um dia, ele se chegou pro seu melhor amigo na cidadezinha e perguntou: 

− Como é que vocês se viram aqui com esta falta de mulher? 

− Aqui tá cheio de bicho por aí, rapaz, galinha, marreca, pata, mula, égua, cabrita, vaca, o diabo. Te vira! 

− Jamais! − falou indignado o jovem mancebo. Morro, mas não faço uma coisa dessas. 

− Mas aqui isso é normal. Todo mundo faz com a maior naturalidade. 

− Todo mundo, menos eu! 

E não fez, quer dizer, não fez até umas semanas mais. Teve uma tardezinha lá que ele não aguentou mais. Viu passara uma porquinha muito mimosa na frente dele, zás, passou a mão na leitoinha. Botou ela debaixo do braço e já ia a caminho de casa, quando resolveu passar no bar, o Sallon da cidade, pra tomar coragem, uns dois tragos bem fortes pra se aprumar um pouco e deixar a mente com menos culpa. 

Entrou no bar com a porquinha debaixo do braço, chegou no balcão e pediu um uísque duplo. Enquanto o uísque não vinha, ele reparou que estava o pessoal todo do bar de olho nele, com aquele olhar acusador, assustado, cheio de censura, pavor e reprovação. Ele não resistiu. Virou-se pro bar cheio e berrou: 

− Que é que há? Por que é que vocês estão me olhando assim? Afinal, todos vocês aqui nesta cidade fazem isto, não é mesmo? 

− É claro que fazemos − respondeu um deles. 

− Então!? Por que é que estão me olhando desse jeito? 

− É que essa aí, meu chapa... essa aí é o caso do delegado!


(Do livro Anedotas do Pasquim 1, de Ziraldo)

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