Chico Buarque e Caetano Veloso
Mesmo
com toda a fama,
Com
toda a Brahma,
Com
toda a cama,
Com
toda a lama,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai levando essa chama.
Mesmo
com todo o emblema,
Todo
o problema
Todo
o sistema,
Toda
Ipanema
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai levando essa gema.
Mesmo
com o nada feito,
Com
a sala escura
Com
um nó no peito,
Com
a cara dura
Não
tem mais jeito,
A gente não tem cura.
Mesmo
com o todavia,
Com
todo dia
Com
todo ia, todo não ia
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando
A gente vai levando essa guia.
Mesmo
com todo rock,
Com
todo pop
Com
todo estoque,
Com
todo Ibope,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando
A gente vai levando esse toque.
Mesmo
com toda sanha,
Toda
façanha,
Toda
picanha,
Toda
campanha,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai levando essa manha.
Mesmo
com toda estima,
Com
toda esgrima
Com
todo clima,
Com
tudo em cima,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai levando essa rima.
Mesmo
com toda cédula,
Com
toda célula,
Com
toda súmula,
Com
toda sílaba
A
gente vai levando,
A
gente vai tocando
A
gente vai tomando,
A gente vai dourando essa pílula.
*******
“Vai Levando” foi feita para o show “Chico & Bethânia no Canecão”, em 1975. Traz a irreverência eterna de Caetano Veloso, mesclada com a poesia social de Chico Buarque. É cantada em três vozes, a de Tom Jobim, a de Miúcha e a de Chico Buarque. A letra fala da fama, da roda viva da vida, da pílula, das suas convulsões numa época de claustrofóbica ditadura e mudança de costumes, afinal 1977 trouxe, após anos de luta contra os desgastados preconceitos morais e religiosos, a aprovação da lei do divórcio.
É o existencialismo explícito, onde desfilam palavras do cotidiano midiático, como ‘Ibope’, ou marca de cerveja como ‘Brahma’. O disco mal tinha saído do forno e a canção tornou-se tema de abertura da novela global “Espelho Mágico”, um grande avanço na emissora de Roberto Marinho, que havia excluído Chico Buarque da sua programação desde a época dos festivais de canções, tendo-o como presença não grata: “Mesmo com o nada feito, / com a sala escura / com o nó no peito, / com a cara dura / a gente não tem cura / mesmo com o todavia, / com todo dia, / com todo ia, / todo não ia, / a gente vai levando / a gente vai levando...”
(...)
Adendo da internet
Mesmo
com tudo raro,
Com
nada claro,
Com
cão sem faro
Com
Bolsonaro,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai aturando esse avaro.
Mesmo
com dor de dente,
Com
confidente,
Com
excedente,
Com
decadente,
A
gente vai levando,
A gente
vai levando,
A
gente vai levando,
A gente vai aturando esse presidente.
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