terça-feira, 12 de abril de 2022

Vai levando

 Chico Buarque e Caetano Veloso

Mesmo com toda a fama,

Com toda a Brahma,

Com toda a cama,

Com toda a lama,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando essa chama. 

Mesmo com todo o emblema,

Todo o problema

Todo o sistema,

Toda Ipanema

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando essa gema. 

Mesmo com o nada feito,

Com a sala escura

Com um nó no peito,

Com a cara dura

Não tem mais jeito,

A gente não tem cura. 

Mesmo com o todavia,

Com todo dia

Com todo ia, todo não ia

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando

A gente vai levando essa guia. 

Mesmo com todo rock,

Com todo pop

Com todo estoque,

Com todo Ibope,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando

A gente vai levando esse toque. 

Mesmo com toda sanha,

Toda façanha,

Toda picanha,

Toda campanha,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando essa manha. 

Mesmo com toda estima,

Com toda esgrima

Com todo clima,

Com tudo em cima,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando essa rima.

Mesmo com toda cédula,

Com toda célula,

Com toda súmula,

Com toda sílaba

A gente vai levando,

A gente vai tocando

A gente vai tomando,

A gente vai dourando essa pílula. 

******* 

“Vai Levando” foi feita para o show “Chico & Bethânia no Canecão”, em 1975. Traz a irreverência eterna de Caetano Veloso, mesclada com a poesia social de Chico Buarque. É cantada em três vozes, a de Tom Jobim, a de Miúcha e a de Chico Buarque. A letra fala da fama, da roda viva da vida, da pílula, das suas convulsões numa época de claustrofóbica ditadura e mudança de costumes, afinal 1977 trouxe, após anos de luta contra os desgastados preconceitos morais e religiosos, a aprovação da lei do divórcio. 

É o existencialismo explícito, onde desfilam palavras do cotidiano midiático, como ‘Ibope’, ou marca de cerveja como ‘Brahma’. O disco mal tinha saído do forno e a canção tornou-se tema de abertura da novela global “Espelho Mágico”, um grande avanço na emissora de Roberto Marinho, que havia excluído Chico Buarque da sua programação desde a época dos festivais de canções, tendo-o como presença não grata: “Mesmo com o nada feito, / com a sala escura / com o nó no peito, / com a cara dura / a gente não tem cura / mesmo com o todavia, / com todo dia, / com todo ia, / todo não ia, / a gente vai levando / a gente vai levando...” 

(...) 

 (Do Blog MPB CIFRANTIGA)  

Adendo da internet 

Mesmo com tudo raro,

Com nada claro,

Com cão sem faro

Com Bolsonaro,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai aturando esse avaro. 

Mesmo com dor de dente,

Com confidente,

Com excedente,

Com decadente,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai levando,

A gente vai aturando esse presidente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário