sexta-feira, 1 de abril de 2022

Os monges respeitosos

 Fábula americana

 (Scott Peck, 1936-2005)

Havia um mosteiro onde um abade e quatro outros monges viviam. A ordem que eles representavam já tinha sido muito grande, mas, por causa da perseguição monástica dos séculos XVII e XVIII, todos os demais mosteiros foram fechados. Agora, somente cinco monges viviam na decadente abadia, e eram todos velhos. Com certeza aquela ordem estava condenada. 

Escondida na floresta que rodeava o mosteiro havia uma cabaninha. Um rabino da cidade mais próxima às vezes usava a cabana para fazer retiro. Um dia, o abade, preocupado com o fim de sua ordem, resolveu visitar o ermitério e perguntar ao rabino se ele tinha algum conselho para lhe dar sobre como salvar o mosteiro. 

O rabino recebeu o abade em sua cabana. Mas, quando o monge lhe explicou o motivo de sua visita, o velho rabino só pôde se compadecer do outro. 

– Eu sei como é – disse o rabino. – O espírito abandonou as pessoas. É o mesmo na minha cidade. Quase ninguém mais vai à sinagoga. 

Assim, o rabino velho e o abade só conseguiram chorar juntos. Eles leram partes da Torá e conversaram calmamente sobre assuntos profundos. Quando o abade se levantou para ir embora, os dois se abraçaram. 

– Que ótimo que conseguimos nos encontrar, depois de todos esses anos – disseram eles. 

– Mas – disse o abade – eu falhei no propósito da minha vinda. Não há nada que possa me dizer, qualquer conselho capaz de salvar nossa ordem agonizante? 

– Sinto muito – respondeu o rabino. – Não tenho nenhum conselho para lhe dar. – Então ele pensou por um instante e acrescentou: – Tudo o que posso lhe dizer é que o Messias é um de vocês. 

Quando o abade voltou ao mosteiro, os monges se reuniram ao redor dele. 

– O que o velho rabino disse? – perguntaram. –Que conselho ele lhe deu? 

– Nenhum – respondeu o abade. – A não ser que o Messias é um de nós. 

Nos dias, semanas e meses que se seguiram, os velhos monges refletiram sobre isso, imaginando se havia algum significado possível nas palavras do experiente rabino, sobre um deles ser o Messias. 

Será que ele se referia a um dos monges do mosteiro? Se fosse o caso, qual? Talvez ele se referisse ao abade. Sim, provavelmente ele falava do abade, que era o líder havia mais de uma geração. 

Ou talvez ele quisesse indicar o Irmão Tomás. Certamente o Irmão Tomás era um homem santo. Todo mundo sabia como ele era piedoso. 

Mas com certeza ele não se referia ao Irmão Jaime! Jaime era sempre tão moralista. Pensando bem, ainda que ele fosse uma pedra nos sapatos dos outros, estava quase sempre com a razão. Quase sempre com muita razão! Talvez o rabino se referisse mesmo ao Irmão Jaime! 

Mas certamente não era o Irmão Filipe! Filipe era um ninguém, tão passivo e despreocupado. Ainda assim, ele parecia estar sempre disponível quando alguém precisava dele! Talvez Filipe fosse o Messias! 

Um de cada vez, os monges pensaram: “É claro que o rabino não estava falando de... mim? Ele não podia estar se referindo a... mim? Sou apenas uma pessoa comum. Supondo que ele estivesse falando de mim... Supondo que eu seja o Messias... Ah, Deus, não, não eu! Não consigo ser assim tão semelhante a Cristo, consigo?”. 

E, enquanto pensavam assim, os velhos monges começaram a se tratar com extraordinário respeito, pela possibilidade de um deles ser o Messias. E, pela possibilidade de ser o Messias, cada um deles começou a tratar a si mesmo com extraordinário respeito. 

Como a floresta onde o mosteiro estava situado era um local muito bonito, as pessoas ainda apareciam ocasionalmente para visitá-lo. E algumas delas começaram a reparar no modo como os velhos monges se tratavam. Havia algo estranhamente atrativo e instigante naquilo. 

Sem saber o porquê, essas pessoas começaram a voltar com frequência ao mosteiro para rezar. Elas traziam os amigos para lhes mostrar esse lugar especial. E os amigos traziam mais amigos. Então aconteceu que alguns dos jovens que iam visitar o mosteiro começaram a conversar, cada vez mais, com os velhos monges. Depois de algum tempo, um jovem pediu para se juntar a eles. E depois outro. E mais outro... 

E assim uma ordem agonizante retornou à vida e se espalhou em novos mosteiros, chegando aos mais distantes cantos do mundo. 

2 comentários: