segunda-feira, 27 de junho de 2022

Culpa o tempo

 

Eu não tinha este rosto pálido,

Nem estes meus olhos sem vida.

Meu pensamento era mais válido

E a minha voz sempre era ouvida. 

Não tinha estas mãos tão frágeis,

Nem minhas pernas tão pesadas.

Meus braços eram fortes e ágeis

E a minha lucidez, minha aliada. 

Não tinha estes ouvidos mortos,

Nem minha memória atribulada.

Embarquei em vários portos,

Desbravei caminhos tortos,

Mas nunca desisti de nada. 

Enfrentei sem medo meus trilhos,

Desejo agora que a vida corra,

Não deixei morrer meus filhos,

Por que quereis que agora eu morra? 

Eu por vós sempre fui amada,

Agora, sou olhada de esguelha:

Mãe! Era assim que era chamada,

Hoje sou chamada de velha. 

Eu não dei por esta mudança,

Não desejei ser este empecilho.

Olhei por ti enquanto criança,

Olha agora por mim, meu filho. 

Porque eu continuo a ser tua mãe,

Porque eu amar-te-ei para lá do fim.

Se tu quiseres culpar alguém,

Culpa o tempo e não a mim! 

José Carlos SC

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