segunda-feira, 6 de junho de 2022

É hora de treinar o amor a amar

 Monja Coen

É preciso amar. Amar o amor que manso se instala em nós. Basta abrir o peito e deixar que se encha de amor puro e santo. Aquele amor que pede nada e é puro encanto. Encanta-se com a borboleta e com a chuva. Jamais perde o maravilhamento das descobertas mais simples e profundas de amar. 

Amar a vida e o desabrochar das fragrâncias. Perfume no ar. Odores que identificam sabores, pessoas, lugares. 

Amar a morte que cessa a coorte de dores e sofrimentos e nos leva à grande paz. Amar a si e se reconhecer ternura em cada criatura. Amar sem esperar um tempo certo, pois sempre é tempo de amar. Amar sem expectativa de nada. 

Deixar-se ser contagiada pelo amor que nos invade e nos faz felizes. Ocitocina, dizem especialistas − o hormônio do amor. Há para vender nas farmácias, ajuda a mãe a soltar o leite, por exemplo. Há ocitocina natural, retroalimentada pelo amor incondicional. 

Vamos, vamos, chegou a hora de trocar fama, riqueza, poder pelo simples ato de amar, de querer bem, de querer o bem de todos os seres. 

Amar devagar e com rapidez. Amar com respeito e insensatez. 

Uma pétala de flor cai sobre o lixo, e somos capazes de querer bem a perfumada e bela pétala caída e o lixo que a recebe e a transformará em nova vida. 

Reciclar a nós, nossos sentimentos. Refazer o valor de querer bem. Éramos assim: cuidávamos uns dos outros na querência de jamais abandonar os princípios éticos de viver em harmonia. 

Nunca deixe de amar. Ame a vida que pulsa e se renova a cada instante. Ame a Terra, feita de nós e de nossos ancestrais. Movimento, transformação, reciclagem de multidões. Séculos dos séculos e ainda tentamos reaprender a amar. 

Amar é cuidar, é querer bem, é respeitar, é libertar. Amar nunca ofende, troça, aperta, destroça, afoga, asfixia, bate e mata. Amar é dar vida. Reconhecer em cada ser o nosso ser maior. 

É hora de treinar o amor a amar. É hora de formar seres capazes de, com certeza, afirmar: amar e ser feliz é melhor que ter poder. 

Felicidade interna bruta se alimenta de amor. Vale mais do que tudo que possa imaginar. 

Está na hora de despertar o amor adormecido, que virou amor bandido, incapaz de cuidar. Vamos juntos nos comprometer ao ato doce de amar, hoje, só hoje. Agora, só agora. Palavras gentis, olhares acolhedores, gestos sutis. Hoje, só hoje. Agora, só agora. 

Aqui e onde quer que vá: ame e nunca esqueça de também se amar. 

Deixe que o amor banhe seu corpo todo, que seu espírito se sinta livre e forte para reconhecer em cada instante a doçura de querer bem. Santa querência, que se atreve a se fazer visível para proteger o ninho sagrado. 

O ninho da vida dos quero-quero é também o nosso ninho de cuidar e compartilhar os bens, tornando-os bens de todos nós. 

Que haja menos enchentes e alagamentos, menos desmoronamentos, menos abusos da vida natural. 

Que haja mais amor e consciência, perseverança e paciência para contagiar o mundo com a paz tranquila de quem sabe amar. 

Hoje, só hoje, ame e continue a amar. 

Mãos em prece

(Do caderno Vida, de Zero Hora, junho de 2022)


Nenhum comentário:

Postar um comentário