Gratidão

 Zé Victor Castiel

Um dos sentimentos mais importantes da vida e que determina definitivamente a trajetória das pessoas é a gratidão. Muitos confundem o conceito de gratidão com o de um mero agradecimento, um simples muito obrigado. 

O agradecimento é algo que usamos no nosso dia a dia para demonstrar gentileza. Em condições normais, se agregam ao “muito obrigado” algumas palavrinhas básicas do cotidiano: “por favor”, “com licença”, “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “de nada”, ou “desculpa”. O agradecimento é requisito da boa educação e não um ato que exija esforço ou pareça inusitado. 

Já a gratidão, não. A gratidão é um sentimento de reconhecimento permanente a alguém marcante em sua vida e que, de alguma forma, fez com que ela se modificasse. 

Existe uma historinha que meu pai adorava contar e que uso até hoje. Dizia ele que como nossas vidas são cheias de altos e baixos, é fundamental que sejamos educados e compreensíveis com todos com quem cruzarmos quando estivermos subindo na vida, porque se por acaso a vida fizer-nos despencar, será com as mesmas pessoas que iremos nos encontrar. Uma delas há de nos estender a mão. 

Fazer o bem, me parece, é uma obrigação do ser humano. Para se fazer o bem, é necessário um estado de espírito. Ao realizar algo grandioso e que possa beneficiar milhares de pessoas, você também estará, de certa forma, fazendo o bem, mas jamais o faça pensando que qualquer das pessoas beneficiadas possa nutrir gratidão por você. Ao contrário: é nestas horas que afloram sentimentos de inveja e desdém. A única coisa que poderá reconhecer suas boas realizações é justamente a história. Um dia, num futuro longínquo, alguém vai atentar para o fato e talvez escrever um livro. 

Mas não pense que tudo são flores. Existem em todos nós departamentos, tal qual uma grande empresa. O departamento de gratidão é apenas um deles. Tem o da raiva, da vendeta, da indiferença e muitos outros não tão nobres assim. 

Portanto, se por acaso alguém que esteja me lendo nutrir por mim algum sentimento de gratidão, guarde para si. De mim, no entanto, não exijam a mesma coisa. Sou daqueles que dá os créditos. 

Só mais uma dica: tenha cuidado com aqueles que substituem o bom e o velho “muito obrigado” pelo novíssimo “tamo junto”, porque na hora “H” não estarão. 

Mesmo os que me prejudicaram ou me fizeram mal ao longo da vida acabaram, de alguma forma, a me ensinar algo. Aos que prejudiquei, peço desculpas, mas a todos, sem exceção: muito obrigado. 

(Do jornal Zero Hora, fevereiro de 2023)