segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Saudade

 Lauro Rodrigues

Quando o sol golpeia no horizonte
e se vai reclinar por de trás do monte
como um boi colorado
repontado pelo mango de noite
que tropeia
eu sofro a mágoa de tristeza,
a quietude sem fim da natureza
na saudade cruel que me maneia.
Xomíco! Por que será
que Nosso Senhor nos dá
sem pena, nem julgamento,
a pua do pensamento
pra esporar o coração?
Há nisso tanta maldade
que eu até nem acredito
que fosse o "tal" Jesus Cristo
o inventor da saudade...

Saudade!
Ela vem chegando,
tropeando... tropeando
tudo de bom que vivi.
Depois que a saudade apeia
amarra o pingo e sesteia,
nunca mais a gente ri.
Isto é: sempre há sorriso
mas para isso é preciso
enganar como perdiz
que piando numa moita
noutra se esconde afoita
fingindo que não piou.
A gente não é feliz!
Sorri dos dentes pra fora,
um gargalhar disfarçado,
uma risada amarela,
como potro atropelado
como boiada que estoura
na saída da cancela.

Saudade cheira a alecrim
mas é ruim que nem cupim
que dá em várzea de campo;
fere a gente de tal jeito
que o coração cá no peito
se banha n´água do pranto.
 

Saudade é grama cidreira,
é guecha passarinheira
que a gente nunca domina;
é dor aguda e danada,
dói mais do que uma chifrada
de vaca mansa brasina.

Saudade, coisa esquisita,
que Deus te faça bendita
como a hóstia no altar!...
Pois, de tudo que já tive,
somente a saudade vive,
vive a me acompanhar!
 

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