terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Tempos difíceis

 Marta Kuhn

Eram tempos tristes ou não?

Lavava-se roupas no rio,

Dentro da água, molhada, no frio.

Trouxa na cabeça ou no bacião.


Com ferro a carvão se passava

Muitas saias engomadas,

Que se arrastavam ao chão...

 

Não sobrava nenhum tostão,

Trocava-se batata por feijão;

Banha, por leite,

Não existia azeite.

 

Se caminhava um montão

Até chegar ao destino

Pelas estradas empoeiradas, barrentas,

Entre o mato e a escuridão.

Não havia condução.

 

Procuravam-se achas de lenha

Para com machadado cortar

E ainda fazer o fogo no fogão

Para cozinhar!

 

Quando muito, se via a carreta

De bois, com rodas de ferro.

O condutor gritava:

− Oxe, boi!

E as rodas travavam

No chão, os bois cansados,

Judiados na tal lentidão!

 

Não era fácil não!

Tinha que fazer o biscoito,

Bolacha e assar o pão.

Limpar a chapa com areia

E fazer o sabão!

Correr no galinheiro atrás do frango

E ainda tirar seu coração.

 

A filharada era tanta,

Mal dava para todos.

Uns comiam; outros não.

 

Roupas quase não se comprava,

Boas almas doavam.

Se remendava, cosia-se de sacas de farinha:

Lençóis, camisolas e calcinhas!

Não era fácil não!

 

Os pés aos espinhos acostumavam-se

Com as geadas, endurecia o cascão!

E, na humilde maloca,

Um cachorro magro na porta

E a filharada dormindo no chão,

Fugindo das tantas goteiras,

À luz de vela ou lampião!

 

As crianças ranhentas cresciam,

Faltava-lhes quase tudo!

Sobretudo... sobrava amor,

Respeito e educação!


(Do livro “Palavras 2017” da AJEB*) 

AJEB: Associação de Jornalistas e Escritores do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário