quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Uma paciente rebelde

 Annie Sullivan

O Dr. Frank Mayfield visitava o Instituto Tewksbury quando, ao sair, esbarrou por acaso em uma idosa funcionária da limpeza. Para quebrar o silêncio, perguntou: 

‒ Há quanto tempo a senhora trabalha aqui? 

‒ Quase desde a abertura do lugar ‒ respondeu ela. 

‒ Então deve conhecer bem a história deste instituto. 

‒ Não sei se sei contar… mas posso lhe mostrar algo. 

Ela o conduziu até o porão do prédio mais antigo e apontou para uma cela enferrujada: 

‒ Foi aí que mantiveram Annie Sullivan. 

Intrigado, Mayfield perguntou quem era Annie. A funcionária explicou que era uma menina considerada incorrigível: selvagem, incontrolável, impossível de lidar. Mordia, gritava, atirava comida. Médicos e enfermeiros não conseguiam sequer examiná-la. 

A mulher então revelou: 

‒ Eu era apenas alguns anos mais nova que Annie. Sempre pensava: “Que horror deve ser viver trancada ali dentro.” Eu queria ajudá-la, mas se os doutores não conseguiam, o que eu poderia fazer? 

Numa noite, depois do trabalho, decidiu assar alguns brownies. No dia seguinte, deixou-os no chão, diante da cela, e disse: 

‒ Annie, fiz isso especialmente para você. Se quiser, pode pegar. 

Saiu rápido, com medo de que Annie os atirasse de volta. Mas não. A menina pegou os brownies e os comeu. A partir daí, tornou-se um pouco mais dócil com ela. Com o tempo, conversavam, até chegaram a rir juntas. 

Uma enfermeira percebeu e contou ao médico. Logo, pediram à jovem funcionária que ajudasse com Annie. Quando os médicos precisavam examiná-la, era a funcionária quem primeiro entrava, acalmava a menina, explicava as coisas e segurava sua mão. Assim, descobriram que Annie era quase cega. 

Depois de um ano de progresso lento, Annie foi enviada ao Instituto Perkins para Cegos, onde aprendeu a ler, escrever e, mais tarde, tornou-se professora. 

Anos depois, Annie voltou a Tewksbury como educadora. O diretor comentou com ela sobre uma carta que acabara de receber: um pai desesperado tinha uma filha cega, surda e considerada “louca”. Não queria interná-la num asilo. Perguntava se alguém poderia ajudá-la em casa. 

Esse foi o início da história que uniu Annie Sullivan a Helen Keller, aluna, amiga e companheira por toda a vida. 

Anos mais tarde, quando Helen Keller foi premiada com o Nobel da Paz, perguntaram-lhe quem mais havia influenciado sua vida. Ela respondeu: 

‒ Annie Sullivan. 

Mas Annie corrigiu: 

‒ Não, Helen. A mulher que nos transformou a ambas foi uma humilde funcionária de limpeza que um dia ofereceu alguns brownies a uma menina esquecida numa cela. 

(Sobre literatura)

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