Ary Barrosos por William
Lamartine Babo por Amorim
Diz a história que Lamartine Babo
esteve na plateia de referida revista, não teria gostado da letra e criado a
sua própria, lançando-a dias depois em seu programa “Horas Lamartinescas” na
PRB-7, Radio Educadora do Rio de Janeiro. O sucesso inquestionável da nova
composição teria causado o rompimento das relações entre J. Carlos e Ary
Barroso. Levada ao disco pela gravadora Victor (disco 33444), lançado em agosto
de 1931, e publicada pela Mangione (partitura E.M. 41), “No rancho fundo”
também seria cantada no mesmo palco do Theatro Recreio pela cantora chilena
Malena de Toledo, na revista “Miss Ester Lina”, com estréia aos 09 de outubro
de 1931.
Fontes? Os biógrafos de Lamartine
Babo e Aracy Cortes, respectivamente Suetônio Soares Valença e Roberto Ruiz.
Aliás, peço licença para transcrever a letra de “Na grota funda” que Roberto
Ruiz obteve diretamente do acervo de Aracy Cortes.
J. Carlos por Mendez
Na grota funda
1930
J. Carlos e Ary
Barroso
Na grota funda,
na virada da montanha,
só se conta uma façanha
do mulato da Raimunda.
na virada da montanha,
só se conta uma façanha
do mulato da Raimunda.
Matou a nega
com um pedaço de canela
e, depois, sem mais aquela
foi juntá c'uma galega.
com um pedaço de canela
e, depois, sem mais aquela
foi juntá c'uma galega.
Ela morreu
na virada da montanha,
vai havê outra façanha
esse mulato vai sê meu!
na virada da montanha,
vai havê outra façanha
esse mulato vai sê meu!
Esse mulato
vai fazendo o que ele qué,
já matou duas muié
porque bamba ele é de fato.
já matou duas muié
porque bamba ele é de fato.
Se não morreu,
vou mansá esse cachorro,
na virada, ali do morro,
esse mulato vai sê meu.
na virada, ali do morro,
esse mulato vai sê meu.
No rancho fundo
1930
Lamartine Babo e Ary
Barroso
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo,
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade.
Bem pra lá do fim do mundo,
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade.
No rancho fundo,
De olhar triste e profundo,
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos d'água.
Pobre moreno,
Que de noite, no sereno,
Espera a lua no terreiro,
Tendo um cigarro
Por companheiro.
Sem um aceno,
Ele pega na viola
E a lua por esmola,
Vem pro quintal
Desse moreno.
No rancho fundo,
Bem pra lá do fim do mundo,
Nunca mais houve alegria
Nem de noite, nem de dia.
Os arvoredos
Já não contam
Mais segredos,
E a última palmeira
Já morreu na cordilheira.
Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos,
De tão triste esta tristeza,
Enche de trevas a natureza.
Internaram-se nos ninhos,
De tão triste esta tristeza,
Enche de trevas a natureza.
Tudo por quê?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Pra uma casa de sapê.
Se Deus soubesse
Da tristeza lá na serra,
Mandaria lá pra cima
Todo amor que há na terra.
Da tristeza lá na serra,
Mandaria lá pra cima
Todo amor que há na terra.
Porque o moreno
Vive louco de saudade,
Só por causa do veneno
Das mulheres da cidade.
Ele que era
O cantor da primavera,
Que até fez do Rancho Fundo
O céu melhor que tem no mundo!
O cantor da primavera,
Que até fez do Rancho Fundo
O céu melhor que tem no mundo!
O sol queimando,
Se uma flor lá desabrocha,
A montanha vai gelando
Lembrando o aroma da cabrocha!
O próprio Ary Barroso confirmou
num texto chamado “Minha Luta” o “imbroglio” que cercou o
nascimento de “No Rancho Fundo”, mas se exime de culpa. Ele conta a história
assim:
“O primeiro aborrecimento sério que
tive foi provocado pelo seguinte fato: Margarida Max cantava na revista “É do
balacobaco” o samba “Na grota funda” com palavras do grande J. Carlos. Na estreia
esteve presente Lamartine Babo. Ouviu a música e imediatamente fez outra letra,
cantando no popularíssimo programa da Rádio da Educadora que era transmitido da
“Casa do Disco”, ali na Rua Chile. Na
grota funda morreu e nasceu No rancho
fundo. J. Carlos nunca me perdoou aquilo que ele chamou de “traição” da minha parte. Juro, até hoje, que só vim a saber da
estória depois que a música já caíra na boca do povo com a letra de Lamartine.”
No rancho fundo, é certamente um presente divino aos ouvidos de quem gosta de uma boa musica.
ResponderExcluirConcordo plenamente com a sua opinião, amigo anônimo.
ExcluirAo que eu saiba o verso correto seria "Que de tarde, no sereno".
ResponderExcluirSereno só ocorre à noite, o verso está correto.
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