quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os Mitos das Florestas



 Os mitos e lendas brasileiras andam pelos lares de nosso povo assustando e fazendo a imaginação voar. Às vezes, estão em vários lugares diferentes ao mesmo tempo. Os nomes podem variar e algumas características também, mas suas histórias e aparições não morrem. A cultura indígena do Brasil tem todo um repertório de lendas mais ligadas às coisas da natureza, envolvendo animais, estrelas, rios e plantas e. algumas dessas lendas misturaram-se às crendices dos brancos católicos, Vamos conhecer algumas dessas lendas que envolvem animais.

BOTO E IARA  diz-se que o grande golfinho do rio Amazonas se transforma num homem branco, alto e forte, que gosta de beber e conversar, e que geralmente seduz moças para engravidá-las, desaparecendo depois. Mas há umas poucas versões que contam da capacidade do Boto de se transformar também numa mulher atraente, que conquista o homem para levá-lo para o fundo das águas - uma história que se confunde com a da Iara, Esta, uma espécie de sereia dos rios amazônicos, canta e seduz os que vivem perto das margens, carregando-os para o fundo assim que os conquista.

LOBISOMEM  Quando um casal tem filhos, todos meninos, precisa fazer o mais velho batizar o mais novo, para que este não se torne um Lobisomem. No caso de sete meninas, deve ser feita a mesma coisa para que a garota não vire bruxa. Dizem que é fácil identificar os Lobisomens: são esquálidos, pálidos, com um tom amarelado nas faces. Os indivíduos que têm tal sina transformam-se de quinta para sexta-feira. Na região Centro-sul do Brasil acredita-se que, se o sujeito for branco, vai aparecer na forma de um enorme cachorro preto; se for negro, o cachorro será branco. Apesar de meter medo nos homens, com suas pernas traseiras mais longas que as dianteiras, muitos dizem que o Lobisomem só sai para comer fezes de galinha. Se não há galinheiros, ele então procura crianças com fralda. No Norte, acredita-se que Lobisomem ou Bruxa será o sétimo filho ou filha do casamento de um padre.

BOITATÁ  Lenda muito forte no Sul do país, refere-se ao duende que, numa noite de tempestade, aproveitou para comer os olhos das carniças dos animais, vítimas de enchentes. Passou, então, a ser um luzeiro ambulante e transparente. No verão, onde há carniça, o Boitatá sempre aparece na forma de uma bola-de-fogo amarelo-azulada, que desaparece de repente. Outros dizem que ele é, na verdade, uma cobra de fogo que percorre Campinas, mergulha nas lagoas e guarda as cavernas, buracos na terra, onde estariam guardados tesouros dos tempos dos jesuítas.

BEM-TE-VI  Pelo som do seu canto, o Bem-te-vi é chamado de Triste-Vida, Tempo-Quer-Vier, Tique-Te-Vi e Te-Vi. No Rio Grande do Norte, ele é malvisto porque gritou muito quando Nossa Senhora procurava fugir para o Egito com São José e o Menino Jesus. Mas o Bem-Te-Vi, que sabe de tudo, costuma também anunciar visitas. Pergunta-se: "que tu viste?" - se ele responder imediatamente, é visita de homem; se demorar, é mulher que vem.

JOÃO DE BARRO  É tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada (no Sul dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo) e é amigo de todos, lutando para salvar seu ninho, sua casa. Um dia, conta-se, brigou com Tapera (andorinha), que chegou a dominá-lo e despejou-o do ninho ainda em construção. A fêmea, conhecida como "Joaninha-de-barro" ou "Maria-de-Barro", ajuda na construção do ninho, mas parece não ser constante, abandonando o macho. O João-de-Barro é fiel até o fim e, por isso, quando percebe que a esposa mudou de amor, tampa a abertura da casa, fechando-a para sempre.

CAIPORA  É um homem com o corpo coberto de pêlos que anda montado num "Queixada", ou porco-do-mato. Muitas pessoas dizem que ver o Caipora dá azar, provavelmente porque ele é tido como protetor dos animais do mato atrapalhando os homens que saem para caçar. No Acre, Caipora é mulher: aparece como uma caboclinha muito esperta, pequena, robusta, com a cabeleira cobrindo-lhe o sexo, e que só dá caça a quem lhe der de fumar. Quando se apaixona, é ciumentíssima.

NEGRINHO DO PASTOREIO  Este, sim, é um ente exclusivo do imaginário dos gaúchos. Contam que, no tempo dos escravos, um senhor de terras que só tinha olhos para cavalos e para o único filho, punha um negrinho seu escravo para cuidar da tropa, mas o menino era sempre enganado pelo filho do fazendeiro, que espantava os cavalos e punha a culpa no negrinho. Um dia, depois de muito açoitar o escravo, o senhor colocou o negrinho na boca de um formigueiro, para ser "Comido" pelos bichinhos. Três dias se passaram e o senhor acabou encontrando o negrinho perfeitamente são por obra e graça de Nossa Senhora. Levando os cavalos pela pradaria afora. O Negrinho do pastoreio tornou-se protetor dos animais e das pessoas perdidas no campo Quem perdeu algo no pasto também pode pedir ajuda a ele, bastando apenas acender um toco de vela à noite, de preferência no fundo escuro do quintal.

MULA-SEM-CABEÇA  Moça que transa antes do casamento, ou comadre que se liga com compadre, ou mulher que casa com padre, vira Mula-Sem-Cabeça. Ela também é conhecida, no Nordeste, como Lula-de-padre. Aparece nas sextas-feiras e, quando encontra uma pessoa, chupa-lhe os olhos, as unhas e os dentes, além de soltar fogo pelas ventas. Outra coisa que faz a Mula-sem-cabeça aparecer é a pessoa passar correndo diante da cruz à meia-noite.

UIRAPURU  "Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa do grande cacique. Como não poderia se aproximar dela, pediu a Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã transformou - o em um pássaro vermelho-telha, que à noite cantava para sua amada. Porém foi o cacique que notou seu canto. Ficou tão fascinado que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique se perdeu. À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto. É por isso que o Uirapuru é considerado um amuleto destinado a proporcionar felicidade nos negócios e no amor.”

SUCURI  É uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em uma certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles se criaram. Honorato não fazia nenhum mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa. Causava sérios prejuízos aos outros animais e também às pessoas. Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra. Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra, fazendo um ferimento na cabeça até sair sangue. Mas ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível encanto, deixando de ser cobra d'água para viver na terra com sua família. A superstição popular aconselha que, quando alguém enxerga assombrações desse tipo, deve deitar-se de bruços e esconder as mãos. Quem vê alma do outro mundo também não deve acender as luzes ao chegar em casa, devendo esperar o clarear do dia.

Lúcia Helena Salvetti De Cicco

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