Gilberto Jasper*
“É óbvio que se devem
enaltecer os bons exemplos.
Mas ser solidário deveria ser o “normal”.
Mas ser solidário deveria ser o “normal”.
“Obrigado”, “por favor”, “desculpe”,
“por gentileza”, “com licença”. Muitos vão lembrar do apelido dado a esse conjunto
de expressões. Eram as “palavrinhas mágicas”, título que pais e mães repetiam à
exaustão para que os filhos fossem pessoas minimamente educadas.
Como tantos outros hábitos “dos
velhos tempos”, essa é uma mania que saiu de moda. A falta de respeito às
normas básicas de convivência transformou o mundo numa selva. Em qualquer
ambiente deparamos com trogloditas que atropelam interlocutores, principalmente
se estes ousarem ter opinião contrária.
“Gentileza gera gentileza.” A
filosofia criada por José Datrino – conhecido no Rio de Janeiro como Profeta
Gentileza – deveria inspirar mais pessoas, ser alçada a conteúdo curricular. O
que mais me incomoda é que o festival de avanços tecnológicos cada vez mais
frenéticos é consoante com a falta de respeito entre seres humanos. Ser moderno
é ser egoísta, egocêntrico, exibicionista, adepto da cultura do descartável.
Todos os dias, quando percorro as
ruas de Porto Alegre, observo a total falta de sintonia entre as conquistas da
contemporaneidade responsáveis por tantas facilidades. A incapacidade de lidar
com nossos semelhantes é inversamente proporcional aos confortos que temos,
como ar-condicionado, controle remoto, internet, elevador/escada rolante,
celular, veículos velozes.
Chegamos ao cúmulo de que exemplos de dignidade humana se transformam – em fração de segundos – em manchete nacional através das onipresentes redes sociais. Um homem que encontra uma carteira com muito dinheiro e procura o dono para devolver a quantia vira herói. Socorrer um transeunte que passa mal na rua é ato de bravura.
É óbvio que se deve enaltecer os bons
exemplos. Mas ser solidário deveria ser o “normal”, não a exceção. Como repito
diariamente aos meus filhos, o mundo ideal é muito distante do mundo real. Mas
é necessário manter a esperança – e trabalhar – por dias melhores. Isso começa
no microcosmo de cada um. Na família, no trabalho, no condomínio, no trânsito.
As “palavrinhas mágicas” preconizadas
por pais zelosos de outrora deveriam ser dogmas. Uma legião de professores,
indiferentes às péssimas condições de trabalho, professa essa filosofia. Lutam
de forma desigual, mesmo sem a parceria de pais dos alunos. Fazem como o
beija-flor que, no pequeno bico pontiagudo, levava poucas gotas d’água para
debelar o incêndio da floresta. Ridicularizado, respondeu:
– Faço o
possível!
Se mais pessoas fizessem o possível
para adotar gestos obsequiosos, talvez as “palavrinhas mágicas” voltassem à
moda para se tornar realidade. E a gentileza iria prosperar.
*****
*Consultor de Comunicação
(Texto transcrito do
Correio do Povo, dezembro de 2017)
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