A
noite de 16 de janeiro, inovadora peça de teatro de autoria da escritora e
filósofa americana de origem russa Ayn Rand, obviamente me despertou a atenção
pela coincidência da data do título com o do meu aniversário* − título que,
aliás, descobri depois, Rand detestava, pois achava vazio e sem significado,
mas fora escolhido pelo produtor da Broadway que comprou os direitos do
espetáculo. A peça estreou em 1935 e, no ano seguinte, obteve enorme sucesso de
público, tendo sido adaptada em vários países. Aqui, mereceu uma montagem do
Teatro Brasileiro de Comédias, em 1949, com direção de R.H. Eagling, um dos
líderes do grupo amador criado por ingleses que moravam na capital paulista, o
English Players, e tradução de Dinah Prado Marcondes e Abílio Pereira de
Almeida – que também estava no elenco.
A história se passa numa corte de
justiça onde o tribunal do júri é composto não de atores, mas dos próprios
espectadores, escolhidos no começo da apresentação. Por isso, tem dois finais
diferentes: um se o júri considerar Karen Andre, a ré, culpada de assassinato,
outro se julgar que ela é inocente.
O português dono de um bar próximo ao
TBC, famoso endereço no bairro da Bela Vista, em São Paulo , se orgulhava
de ter aquele templo de cultura perto de seu estabelecimento e não perdia uma
montagem no teatro fundado pelo engenheiro napolitano Franco Zampari, que se
integrou à elite paulistana e foi responsável por trazer Adolfo Celi para o
Brasil. Uma noite, o diretor e os atores de A
noite de 16 de janeiro resolveram retribuir a assiduidade e o carinho do
dono do bar e o convidaram para ser foreman,
a pessoa que, no final, dá o veredicto ao juiz (a peça segue as regras e os
rituais do tribunal do júri americano, que diferem daqueles do brasileiro). No
fim do último ato, o juiz perguntou se o júri havia chegado a alguma conclusão.
O português, envaidecido por estar colaborando com o seu querido TBC,
levantou-se e respondeu em alto e bom som:
− Sim, meritíssimo: a culpada é
inocente!
*****
(Do livro “O Livro de
Jô – uma autobiografia desautorizada”,
de Jô Soares e
Matinas Suzuki Jr.)
* 16 de janeiro de 1938, data de
nascimento de José Eugênio Soares (Jô Soares).
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