terça-feira, 26 de dezembro de 2017

As “pegadinhas” de Oddone Greco



No meio da sessão lotada, acendem-se as luzes do Cine Appolo, no início da Avenida Independência, um pouco além dos limites da Rua da Praia. Alguém avisa que uma senhora perdeu uma nota de mil cruzeiros, uma pequena fortuna, na época. A sala vira um rebuliço. Quando todos estão acocorados entre os bancos, as luzes se apagam repentinamente, com o aviso: “A nota foi encontrada”. E o filme recomeça. O episódio chega aos ouvidos do proprietário do cinema, Januário Greco. Ele sacode a cabeça:

− Só pode ser coisa do Oddone – comenta referindo-se ao próprio filho.

Bon Vivant, desprendido e gozador, Oddone Greco é o rei das “pegadinhas”, quando o termo sequer existia. Apronta durante mais de duas décadas, tendo a Rua da Praia como palco principal. Do início ao fim do trote, mantém um semblante circunspecto e imperturbável. Além das vítimas habituais, costuma escolher o alvo da próxima zombaria folheando aleatoriamente o guia telefônico (como na história abaixo).

Clube do Comércio, 2h20min da madrugada. Oddone sai do clube com alguns amigos:

− Que chuva enjoada... Tu não vens, Oddone?

− Hã, sim... Só preciso dar um telefonema.

− Boa noite, doutor. Desculpe incomodar. É que, com frio, meu cavalo está apresentando sintomas interessantes, e eu gostaria que o senhor viesse ver o que ele tem.

− Está tarde, amanhã terei o maior prazer em atender o seu cavalo.

− É, doutor, mas acho que amanhã de manhã o bicho vai estar liquidado. Ele ficou completamente duro lá no meio da chuva. Está pegando uma cor verde, o senhor não poderia vir agora? Estou bem perto da sua casa.

− Está bem. Qual é o endereço?

− Moro bem no meio da Praça da Alfândega, cercado pelo laguinho de pedra e o meu nome é General Osório... 



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