No meio da sessão lotada, acendem-se
as luzes do Cine Appolo, no início da Avenida Independência, um pouco além dos
limites da Rua da Praia. Alguém avisa que uma senhora perdeu uma nota de mil
cruzeiros, uma pequena fortuna, na época. A sala vira um rebuliço. Quando todos
estão acocorados entre os bancos, as luzes se apagam repentinamente, com o
aviso: “A nota foi encontrada”. E o filme recomeça. O episódio chega aos
ouvidos do proprietário do cinema, Januário Greco. Ele sacode a cabeça:
− Só pode ser coisa do Oddone –
comenta referindo-se ao próprio filho.
Bon
Vivant, desprendido e gozador, Oddone Greco é o rei das “pegadinhas”,
quando o termo sequer existia. Apronta durante mais de duas décadas, tendo a
Rua da Praia como palco principal. Do início ao fim do trote, mantém um
semblante circunspecto e imperturbável. Além das vítimas habituais, costuma
escolher o alvo da próxima zombaria folheando aleatoriamente o guia telefônico
(como na história abaixo).
Clube do Comércio, 2h20min da
madrugada. Oddone sai do clube com alguns amigos:
− Que chuva enjoada... Tu não vens,
Oddone?
− Hã, sim... Só preciso dar um
telefonema.
− Boa noite, doutor. Desculpe
incomodar. É que, com frio, meu cavalo está apresentando sintomas
interessantes, e eu gostaria que o senhor viesse ver o que ele tem.
− Está tarde, amanhã terei o maior
prazer em atender o seu cavalo.
− É, doutor, mas acho que amanhã de
manhã o bicho vai estar liquidado. Ele ficou completamente duro lá no meio da
chuva. Está pegando uma cor verde, o senhor não poderia vir agora? Estou bem
perto da sua casa.
− Está bem. Qual é o endereço?
− Moro bem no meio da Praça da
Alfândega, cercado pelo laguinho de pedra e o meu nome é General Osório...
Nenhum comentário:
Postar um comentário