Num livro de Marcel Proust, ele
retrata a morte de um personagem, o escritor Bergotte. Numa famosa passagem de Em Busca do Tempo Perdido, Bergotte vai
a uma exposição de arte holandesa em Paris que, entre outros quadros, exibe Vista de Delft (acima), de Johannes
Vermeer. Bergotte é um apaixonado pela Vista
de Delft. Já a contemplou várias vezes, e em cada uma descobre coisas
novas. Nesta, ele repara pela primeira vez nos pequenos personagens vestidos de
azul, à esquerda da tela, e na cor rósea da areia em que pisam. Principalmente,
fixa a atenção num pequeno pedaço de muro amarelo. O muro amarelo,
aparentemente insignificante, no conjunto de um quadro que mostra um aglomerado
de construção à beira do rio, o captura de modo irresistível. Seu olhar se fixa
nele “como o de uma criança em uma borboleta amarela que deseja apanhar”. Sente
então uma tontura, acomoda-se num banco e morre.
O personagem Bergotte morreu sob o
impacto de uma emoção estética da obra predileta do artista predileta. Morreu
do que chamamos de “morte ideal”.
*****
De uma frase de Rui Castro,
com Texto de Roberto Pompeu de Toledo e ilustrado por Nilo Moraes.
A Vista de Delft é o chef-d'oeuvre de
Vermeer. O quadro ficou ainda mais famoso por ter sido usado por Proust como
símbolo da transcendência na Arte, no episódio da morte do escritor Bergotte.
Bergotte vai ver o quadro, exposto em Paris, para descobrir o “pequeno muro amarelo” descrito por um crítico como “tão precioso quanto uma pintura chinesa” e que Bergotte não conseguia ver nas reproduções.
Diante do quadro, Bergotte encontra a
manchinha amarela e tem uma epifania, a revelação de que toda a obra dele não
vale aquela mancha de pintura. O escritor tem um ataque e morre, rolando pelo
chão da galeria.
Proust se baseou num episódio real.
Ele mesmo foi ver o quadro (e a tal mancha amarela), mas teve uma tonteira
forte, sentiu-se mal. Foi a última vez que Proust saiu de casa, passou o resto
da vida na cama.
Os críticos não concordam sobre qual
das manchas amarelas no quadro seria a de Bergotte e Proust. A discussão já
rendeu vários livros. Há três fortes candidatas. Escolha a sua.
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