sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Tudo bem, assumo a idade que tenho.

(excerto)*

David Coimbra


(...)

É preciso envelhecer com dignidade, afinal, sem essas vaidades de pintar o cabelo e outros que tais. Você haverá de entender que não tem mais aquela elasticidade e que começará a se preocupar com coisas nas quais antes nem pensava, como as articulações.

Você terá de mudar.

Dormir mais cedo. Beber menos. Comer menos também. Nas atividades amorosas, nada de acrobacias. Pensando bem, nada de acrobacias em nenhuma atividade. Esporte? O xadrez. Emoções? As literárias. O que nós queremos, nós que nos aproximamos da idade provecta, é paz e um plano de saúde confiável.

Sei que, falando assim, tudo parece sombrio, mas há uma vantagem. Uma só. E não é essa tolice de “melhor idade”. Também não é a experiência. Nada disso. A vantagem da madureza passa por algo que citei acima: as críticas. O homem mais velho, se sorveu com sabedoria o tempo que lhe coube, pouco se importa com elas. Ele sabe que tem ser quem é, a despeito do que querem que ele seja. Ele sabe que sempre haverá quem desaprove o que ele faz, por melhor que seja feito. Ele sabe que a opinião dos outros não vale um minuto de inquietação do seu dia.

Esse é o verdadeiro e único proveito do entardecer da existência: você gosta de ser quem é. Eu gosto.

*****
  
*Parte da crônica “O que o sapato diz de quem você é”, de David Coimbra, Zero Hora, setembro de 2019.




Nenhum comentário:

Postar um comentário