sábado, 21 de setembro de 2019

A Rádio Nacional, PRE-8 – Programa César de Alencar


Uma estação de rádio, com um elenco maior do que o de qualquer emissora de televisão no Brasil. Praça Mauá, nº 7, Rio de Janeiro. Sábado, 14h58min. Dentro de dois minutos estará no ar o maior programa de todos os tempos do rádio brasileiro. A Rádio Nacional transmite alguns anúncios, depois de ter apresentado o Consultório Sentimental, de Helena Sangirardi, e a reprise do “Balança, mas não cai”, cuja audiência de 35 pontos no Ibope é incrível, tendo em vista que o programa foi apresentado ontem à noite.

O auditório, de pouco mais de seiscentos lugares, está superlotado. No mínimo, umas mil pessoas aguardam ansiosas o início do programa. Seu apresentador e principal responsável, César de Alencar, acerta com um dos produtores, Hélio do Soveral, os últimos detalhes para que tudo ocorra bem. A orquestra, com os integrantes todos sentados e o maestro Chiquinho, com seu enorme lenço no bolsinho de cima do paletó, preparado para comandar os primeiros acordes do prefixo do Programa César de Alencar. No ar, o último jingle comercial: é a valsa do Phimatosan, composta por Lourival Marques, que retirou a melodia de uma música europeia do século passado (séc. XIX).

O operador acende a luz vermelha indicando que, dentro de quinze segundos, estará no ar o Programa César de Alencar. Milhões de aparelhos de rádio, em todas as cidades brasileiras, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, estão ligadas, oferecendo uma audiência esmagadora. Aliás, o ponteiro desses aparelhos poucas vezes sai da Rádio Nacional.

À tarde, pode haver jogo da Seleção Brasileira, que a Nacional não deixa de transmitir o Programa César de Alencar.

Esta canção nasceu para quem quiser cantar,
Canta você, cantamos nós até cansar.
É só bater e decorar, para recordar,
Vou repetir o seu refrão,
Prepare a mão, bate outra vez,
Este programa pertence a vocês.

Curiosidades

Þ Trabalhou durante trinta anos na Rádio Nacional, apresentando o Programa César de Alencar, em que desfilam as grandes estrelas da época, como Emilinha Borba, Linda Batista, Isaurinha Garcia, Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, entre tantos outros.

Þ Segundo Luis Vieira, “Ele tinha o raciocínio rápido, era engraçado, sabia extasiar um auditório. Foi o maior animador que já apareceu no Brasil”.

Þ Em março de 1964, na tomada do poder pelos militares, César, então diretor da Rádio Nacional, é acusado de denunciar como comunistas vários companheiros de trabalho, denúncia nunca comprovada.*

Þ Poucas vezes ele rebate as acusações, mas com certeza morre com essa mágoa.**

Þ Nos últimos tempos, ainda apresentava seu programa todas as manhãs de sábado na Rádio Nacional.

Þ No cinema, participa de inúmeros filmes, sendo sua estréia em 1944, no filme Corações Sem Piloto.

Þ Morre em 14 de Janeiro de 1990, aos 73 anos de idade, de enfisema pulmonar, no Rio de Janeiro.

*   Mário Lago, um dos expurgados da Rádio Nacional, confirmou que ele denunciou ao regime militar todos esquerdista da Rádio Nacional.

** Nunca rebateu porque elas eram verdadeiras.


César de Alencar e as irmãs Linda e Dircinha Batista

César de Alencar (1917-1990), apresentador brasileiro de rádio e televisão foi uma das peças fundamentais para o sucesso de nossa música popular apresentando os futuros "monstros" da MPB, na época calouros ou já famosos.

Com voz e estilo cativantes, foi campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos, popularizando, no Brasil, fórmulas que faziam sucesso nos Estados Unidos, como a parada de sucessos, em Parada dos maiorais, e o programa de calouros, em Cantinho dos novos.

Entre as inovações que trouxe para o rádio brasileiro está a entrevista ao vivo por telefone, recurso usado até hoje. Fez a transição para a TV logo nos primeiros momentos do novo veículo, no início da década de 1950, mas nunca conseguiu igualar o imenso sucesso de seus programas de rádio.

Desde 1993, com a publicação do livro “César de Alencar: a voz que abalou o rádio”, de Jonas Vieira, vem sendo lembrado mais por sua colaboração com os órgãos de repressão a partir do golpe militar de 1964 do que por seus feitos no rádio.


Auditório da Rádio Nacional

P.S. No regime militar que se instalou no Brasil em 1964, 67 profissionais da Rádio Nacional foram demitidos e 81 ficaram sob suspeita.

Os 36 demitidos e outros que foram sendo aos poucos afastados tomaram caminhos diversos. A televisão, que se fortaleceu nos anos seguintes, sobretudo com a inauguração da TV Globo, em 1965, absorveu grande parte do cast expurgado da Rádio Nacional, como os novelistas Dias Gomes e Mário Brasini, os atores Mário Lago e Gracindo Júnior, e o apresentador Paulo Roberto.

 Na luta pela anistia, no final da década de 70, os expurgados da Nacional formaram uma comissão, tendo à frente Mário Lago. O decreto de anistia veio em 1979, no governo do general Figueiredo. Gerdal lembra que o escritor Guilherme Figueiredo, irmão do presidente, defendia a reintegração dos demitidos, na época 30 nomes, porque seis já haviam falecido: Paulo Roberto, Oduvaldo Vianna, Jararaca, Heitor dos Prazeres, Jairo Argileu e Ovidio Chaves. A reintegração só ocorreu em 1980.

                                            (Do blog Agência Brasil)


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