Os 36 demitidos e outros que foram sendo aos poucos afastados tomaram caminhos diversos. A televisão, que se fortaleceu nos anos seguintes, sobretudo com a inauguração da TV Globo, em 1965, absorveu grande parte do cast expurgado da Rádio Nacional, como os novelistas Dias Gomes e Mário Brasini, os atores Mário Lago e Gracindo Júnior, e o apresentador Paulo Roberto.
sábado, 21 de setembro de 2019
A Rádio Nacional, PRE-8 – Programa César de Alencar
Uma estação de rádio, com um elenco
maior do que o de qualquer emissora de televisão no Brasil. Praça Mauá, nº 7,
Rio de Janeiro. Sábado, 14h58min. Dentro de dois minutos estará no ar o maior programa
de todos os tempos do rádio brasileiro. A Rádio Nacional transmite alguns
anúncios, depois de ter apresentado o Consultório Sentimental, de Helena
Sangirardi, e a reprise do “Balança, mas não cai”, cuja audiência de 35 pontos
no Ibope é incrível, tendo em vista que o programa foi apresentado ontem à
noite.
O auditório, de pouco mais de
seiscentos lugares, está superlotado. No mínimo, umas mil pessoas aguardam
ansiosas o início do programa. Seu apresentador e principal responsável, César
de Alencar, acerta com um dos produtores, Hélio do Soveral, os últimos detalhes
para que tudo ocorra bem. A orquestra, com os integrantes todos sentados e o
maestro Chiquinho, com seu enorme lenço no bolsinho de cima do paletó,
preparado para comandar os primeiros acordes do prefixo do Programa César de
Alencar. No ar, o último jingle comercial: é a valsa do Phimatosan, composta
por Lourival Marques, que retirou a melodia de uma música europeia do século
passado (séc. XIX).
O operador acende a luz vermelha
indicando que, dentro de quinze segundos, estará no ar o Programa César de
Alencar. Milhões de aparelhos de rádio, em todas as cidades brasileiras, do
Amazonas ao Rio Grande do Sul, estão ligadas, oferecendo uma audiência
esmagadora. Aliás, o ponteiro desses aparelhos poucas vezes sai da Rádio
Nacional.
À tarde, pode haver jogo da Seleção
Brasileira, que a Nacional não deixa de transmitir o Programa César de Alencar.
Esta canção nasceu para quem quiser cantar,
Canta você, cantamos nós até cansar.
É só bater e decorar, para recordar,
Vou repetir o seu refrão,
Prepare a mão, bate outra vez,
Este programa pertence a vocês.
Curiosidades
Þ Trabalhou durante trinta
anos na Rádio Nacional, apresentando o Programa César de Alencar, em que desfilam
as grandes estrelas da época, como Emilinha Borba, Linda Batista, Isaurinha
Garcia, Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, entre tantos outros.
Þ Segundo Luis Vieira, “Ele
tinha o raciocínio rápido, era engraçado, sabia extasiar um auditório. Foi o maior
animador que já apareceu no Brasil”.
Þ Em março de 1964, na
tomada do poder pelos militares, César, então diretor da Rádio Nacional, é
acusado de denunciar como comunistas vários companheiros de trabalho, denúncia
nunca comprovada.*
Þ
Poucas vezes ele rebate as acusações, mas com certeza morre com essa mágoa.**
Þ Nos últimos tempos, ainda
apresentava seu programa todas as manhãs de sábado na Rádio Nacional.
Þ No cinema, participa de
inúmeros filmes, sendo sua estréia em 1944, no filme Corações Sem Piloto.
Þ Morre em 14 de Janeiro de
1990, aos 73 anos de idade, de enfisema pulmonar, no Rio de Janeiro.
* Mário Lago, um dos expurgados da Rádio
Nacional, confirmou que ele denunciou ao regime militar todos esquerdista da
Rádio Nacional.
** Nunca rebateu porque elas eram
verdadeiras.
César de Alencar e as
irmãs Linda e Dircinha Batista
César de Alencar (1917-1990),
apresentador brasileiro de rádio e televisão foi uma das peças fundamentais
para o sucesso de nossa música popular apresentando os futuros
"monstros" da MPB, na época calouros ou já famosos.
Com voz e estilo cativantes, foi
campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos, popularizando, no Brasil,
fórmulas que faziam sucesso nos Estados Unidos, como a parada de sucessos, em
Parada dos maiorais, e o programa de calouros, em Cantinho dos novos.
Entre as inovações que trouxe para o
rádio brasileiro está a entrevista ao vivo por telefone, recurso usado até
hoje. Fez a transição para a TV logo nos primeiros momentos do novo veículo, no
início da década de 1950, mas nunca conseguiu igualar o imenso sucesso de seus
programas de rádio.
Desde 1993, com a publicação do livro
“César de Alencar: a voz que abalou o rádio”, de Jonas Vieira, vem sendo lembrado
mais por sua colaboração com os órgãos de repressão a partir do golpe militar
de 1964 do que por seus feitos no rádio.
Auditório da Rádio
Nacional
P.S. No regime militar que se
instalou no Brasil em 1964, 67 profissionais da Rádio Nacional foram demitidos
e 81 ficaram sob suspeita.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário