sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Escravidão e tortura no século XX

1925 – Coluna Prestes viaja pelo Brasil


Preso com gargalheira no pescoço

(...)

Prestes (1)* e Miguel Costa (2)* estão chocados com a realidade política, econômica e social do interior de Goiás. Nas cadeias e até mesmo em algumas fazendas ainda são encontrados instrumentos de tortura medieval, como troncos de jatobá, para açoites, e gargalheiras de ferro, que eram usadas para prender escravos pelo pescoço. A maioria dos presos ainda é castigada com chibatadas e mantida prisioneira com pesados grilhões.

Na cadeia de Porto Nacional, os rebeldes encontram um negro velho, acusado de homicídio, que cumpre pena há vários anos, acorrentado no interior de uma cela. Absolvido do crime pelo corpo de jurados, mesmo assim foi condenado a 30 anos pelo juiz, que estava bêbado na hora do julgamento. Esquelético, quase cego, com feridas nas pernas causadas pelas correntes, o negro já tinha cumprido onze anos: os primeiros sete, amarrado num tronco; os quatro últimos anos, acorrentado pelos pés. O homem foi imediatamente libertado pelos rebeldes, mas seu estado de saúde era tão precário, em consequência dos maus-tratos sofridos, que não podia caminhar.


Grilhão para prender os pés dos condenados

Em Porto Nacional, como nas cidades por onde passam, os rebeldes são muitas vezes abordados pela população em busca de justiça. Os moradores queixam-se de perseguições e de toda sorte de retaliações por parte das autoridades. Não foram poucas as vezes em que os oficiais tiveram de proteger essas autoridades da fúria popular.

Os cartórios, mesmo os criminais, eram sempre preservados, e os únicos documentos que destruíam publicamente, em grandes fogueiras, eram os livros e as lista de cobrança de impostos. Os rebeldes achavam que, pelo menos por algum tempo, a população ficaria livre dos escorchantes tributos do Governo. Muitas vezes, Prestes solicitava a Lourenço Moreira Leite (3)*, que era advogado, pareceres jurídicos sobre determinados processos criminais. Os documentos só eram destruídos quando Moreira Lima se convencia de que o processo havia sido conduzido de má-fé ou que a sentença proferida pelo juiz contrariava a prova dos autos.

(Do livro “As Noites das Grandes Fogueiras
Uma História da Coluna Prestes”, de Domingos Meirelles)


Alto Comando da Coluna Costa-Prestes:

Sentados da esquerda para a direita: Djalma Dutra, Siqueira Campos, Luis Carlos Prestes, Miguel Costa, Juarez Távora, João Alberto e Cordeiro de Farias;

Em pé, na mesma ordem: J. Pinheiro Machado, Atanagildo França, Emídio Miranda, João Pedro, Paulo Krügel, Ari Freire, Nelson Machado, Manuel Lima Nascimento, Sadivale Machado, Trifino Corrêa e Ítalo Landucci, em Porto Nacional (GO), outubro de 1925.


* (1) Luis Carlos Prestes (foto acima): foi um militar e político comunista brasileiro, uma das personalidades políticas mais influentes no país durante o século XX. Prestes ganhou fama nacional ao liderar a Coluna Prestes na década de 20.

Nascimento: 3 de janeiro de 1898, Porto Alegre, Rio Grande do Sul;
Falecimento: 7 de março de 1990, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro;
Partido: Partido Comunista Brasileiro;
Formação: Escola Militar do Realengo (1916–1919).


* (2) Miguel Crispim da Costa Rodrigues, foto acima, nasceu em Buenos Aires, em 1874.

Transferiu-se ainda criança para o Brasil, fixando-se em Piracicaba (SP). Anos mais tarde, naturalizou-se brasileiro.

Militar, iniciou sua carreira como soldado da Força Pública do estado de São Paulo, instituição que durante a República Velha possuía efetivos comparáveis aos do Exército. Nela, atingiu o posto de oficial da cavalaria.

Teve participação destacada, em julho de 1924, no levante ocorrido na capital paulista contra o governo de Artur Bernardes, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes. Os rebeldes assumiram o controle da cidade durante três semanas, mas sem poder continuar resistindo ao cerco das tropas legalistas, retiraram-se com cerca de 3 mil homens em direção ao estado do Paraná. Ali, em abril do ano seguinte, vieram se juntar a eles as forças que haviam sublevado, nos meses anteriores, guarnições do interior gaúcho sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes.

Morreu em 1959, na capital paulista.


* (3) Lourenço Moreira Lima, foto acima, − o Bacharel Feroz (Itambé, 1881 – São Paulo, 5 de setembro de 1940, foi um advogado e guerrilheiro brasileiro, responsável pelos registros dos fatos ocorridos durante a marcha da Coluna Prestes pelo país, durante meados dos anos 1920.

****

O que foi

→ A Coluna Prestes foi um movimento político, liderado por militares, contrário ao governo da República Velha e às elites agrárias. Este movimento ocorreu entre os anos de 1925 e 1927. Teve este nome, pois um dos líderes do movimento foi o capitão Luís Carlos Prestes.

Causas principais

→ A principal causa foi a insatisfação de parte dos militares (tenentismo) com a forma que o Brasil era governado na década de 1920: falta de democracia, fraudes eleitorais, concentração de poder político nas mãos da elite agrária, exploração das camadas mais pobres pelos coronéis (líderes políticos locais).

Objetivos principais:

→ Percorrer grande parte do território brasileiro (principalmente interior), incentivando a população a se rebelar contra o governo e as elites agrárias. O objetivo era derrubar o governo do presidente Arthur Bernardes;

→ Implantar o voto secreto e o ensino fundamental obrigatório no Brasil;

→ Acabar com a miséria e a injustiça social no Brasil.

Como foi
(resumo)


→ Os integrantes da Coluna Prestes percorreram cerca de 25 mil quilômetros pelo interior do território brasileiro. O núcleo fixo tinha cerca de 200 homens, porém em vários momentos da caminhada o movimento chegou a contar com cerca de 1400 pessoas (militares e simpatizantes do movimento).

→ Os integrantes da Coluna Prestes passam e paravam nas cidades. Conversavam com as pessoas e faziam a propaganda contra o governo federal, mostrando as injustiças sociais da época e defendendo reformas políticas e sociais.

→ O movimento teve início na cidade de Alegrete (sul do Rio Grande do Sul) e após dois anos e meio e percorrer 11 estados, terminou dividido. Um grupo foi para a Bolívia, enquanto outro para o Paraguai.

Consequências

→ Embora não tenha conseguido derrubar o governo, a Coluna Prestes foi um movimento que enfraqueceu politicamente a República Velha, abrindo caminho para a Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder.

Curiosidades:

→ Com o término do Movimento, Luís Carlos Prestes foi estudar marxismo na Bolívia em 1928. Foi morar na União Soviética em 1931. Retornou ao Brasil, de forma clandestina, em dezembro de 1934.

→ Com o movimento, Luís Carlos Prestes ganhou o apelido de “Cavaleiro da Esperança”.

→ Outro líder importante do movimento foi o militar e revolucionário brasileiro Miguel Costa.

(Do Blog Sua pesquisa.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário