segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O ninho

Bráulio Bessa


Outro dia observei
a construção de um ninho;
vi graveto por graveto
no bico do passarinho,
parecia um engenheiro
tão forte e tão ligeiro
mesmo tão pequenininho.

É ali que cada filho
vai aprender a cantar,
vai ver os raios de sol,
ouvir a chuva pingar,
até que um belo dia
vai provar da alegria
de aprender a voar.

Eu fiquei ali pensando
do que é feito nosso ninho...
Afinal, também nascemos
frágeis feito um passarinho
e a mãe do mesmo jeito,
trabalha e estufa o peito
e constrói o nosso cantinho.

Enfrenta tudo no mundo
pra poder nos proteger,
dá pra gente o de calçar,
o de vestir e o de comer.
E quando o dia chegar
a gente não vai voar,
mas já vai saber correr.

Vai correr no mêi do mundo
na correria da vida.
Vai sofrer, vai sentir medo,
vai ter a alma partida,
mas também vai entender
que a estrada a percorrer
não é apenas de ida.

O ninho tá sempre ali
basta o cabra reparar,
que é talvez pelo retorno
que a gente aprende a andar,
que as coisas são diferentes
que às vezes andar pra frente
também pode ser voltar.

Voltar pra não esquecer
de quem nunca esquece a gente!
Pra se lembrar do abraço
mais apertado, mais quente,
lembrar da ave mais bela,
mais bonita, mais singela,
mas também a mais valente.

Lembrar que cada graveto
de amor e de carinho,
cada folha, cada galho,
prepararam o seu caminho
lhe deram sabedoria,
pois já já será o dia
de fazer seu próprio ninho.

(Do livro “Poesia com rapadura”)


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