Coluna Prestes em
passagem pelo Planalto Central.
Os militares de São Paulo, a
princípio, não deram grande valor às montarias. Quando daí se afastaram. E
depois da junção com os gaúchos, compreenderam o que representava o cavalo
naquela marcha sem limites. O gaúcho, em combate, não faz muita questão da
indumentária: duas camisas de xadrez, uma bombacha de lã, um par de botas de
sanfona bastam para o seu conforto. Onde, porém, a vaidade se manifesta, é nos
arreios de seu cavalo. Se acontece a montaria cair abatida pelo fogo do inimigo
ou exausta pelo cansaço, o gaúcho desencilha o animal e carrega às costas os pesados
arreios, até encontrar outra montaria. Daí terem-se desenvolvido as potreadas,
epopeia de pequenas patrulhas, de cinco a quinze homens no máximo, que se
afastavam em surtidas, por vezes de vários dias, à cata de animais, à notícia
vaga de uma cavalhada num rincão distante, para voltarem trazendo os animais de
que a Coluna necessitava. A audácia dos potreadores não encontra nada que se
lhe compare, dizem os cronistas da Coluna.
João Alberto* e Moreira Lima*
tecem o elogio, sem limites, dos potreadores, cujas correrias audaciosas
enchiam os sertões de lendas, cada qual mais arrojada. Houve potreadas que não
mais regressaram, aniquiladas pelo inimigo. Outras, percorreram centenas de
léguas, até voltarem ao convívio dos companheiros. Há notícias, destacadamente,
de três que atravessaram longas zonas até atingir a Coluna: a do sargento
Menoti, que se apartou com dez homens, só voltando a se unir na fronteira de
Mato Grosso, tendo perdido três companheiros em combate; a do capitão Euclides
Krebis, com quinze homens, saída igualmente do norte de Goiás, reunindo-se já naquele
Estado com quatro perdas; e do tenente Manuel Francisco de Sousa.
Potreador emérito era o tenente
Manuel Francisco de Sousa − caboclo sergipano, o melhor comandante de M.P. da
Coluna, cujas características de valentia, iniciativa e longa prática desse
tipo de ação, foram maravilhosamente aproveitadas quando a Coluna precisou se
internar na Bolívia, em fevereiro de 1927. Nessa ocasião foi designado o
tenente Sousa, com uns 15 homens bem montados (a Coluna estava quase toda a pé,
por essa época), a cumprir a tarefa de iludir as forças irregulares, largamente
disseminadas pela região mato-grossense ao norte de São Luís de Cáceres, atacando-as,
de surpresa, confundido-as sobre as intenções do grosso da tropa
revolucionária, a fim de permitir sua emigração. Durante mais der uma dezena de
dias, com vários encontros diários, marchando e contramarchando em diferentes
rumos, o tenente Sousa desorientou inteiramente os agrupamentos irregulares
colocados na fronteira Brasil-Bolívia, dando liberdade de ação à Coluna, que só
foi molestada pela retaguarda.
Nem assim o tenente Sousa julgou
concluída a sua missão. Mandou um emissário pedir licença ao chefe da Coluna
para retirar-se do campo de luta. Só depois de obtida a permissão, atravessou a
fronteira com seus bravos.
Um autêntico herói, companheiro
de Prestes na Grande Marcha, o general Emídio Miranda, resumiu toda a epopeia
das potreadas, na enumeração impressionante de suas missões:
Remontar, propriamente, a Coluna;
suprir de gado bovino os destacamentos; desorientar e inquietar o inimigo,
combatente ou não, com o seu aparecimento em toda parte e a todo momento;
colher informações sobre o inimigo para facilitar aos comandantes da Coluna e
dos destacamentos a tomada de suas decisões e maior liberdade de manobra
(Do livro “1926 A Grande Marcha” de
Hélio Silva)
*João Alberto Lins de Barros (Recife,
16 de junho de 1897 − Rio de Janeiro, 26 de janeiro
de 1955)
foi um militar
e político
brasileiro.
Além de ter participado da Revolta
Paulista de 1924 e da Coluna
Prestes,
*Lourenço Moreira Lima foi um
advogado e guerrilheiro brasileiro, responsável pelos registros dos fatos
ocorridos durante a marcha da Coluna
Prestes pelo país, durante meados dos anos 1920.
*Potrear: arrebanhar (gado e
cavalo), com violência, do campo do proprietário sem consentimento deste. Essa
prática era comum, durante as revoluções, as operações militares.
Coluna Prestes no interior do Brasil
Coluna Prestes - soldados
Líderes da Coluna Prestes
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