segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

O Dia da Infâmia

 Marcelo Mattos

Foto Agência Brasil 

Parecia um domingo como outro qualquer em Brasília. O recém-empossado presidente Lula estava em São Paulo, Jair Bolsonaro passava uma temporada fora do país, o Congresso entrou em recesso e os ministros do Supremo Tribunal Federal gozavam férias. A aparente calmaria, porém, contrariava alguns sinais captados pelos órgãos de inteligência do governo: havia ônibus aos montes chegando à capital, manifestantes que questionavam o resultado das eleições voltaram a se aglomerar no acampamento erguido havia meses diante do quartel-general do Exército e muitos deles falavam abertamente, em grupos de mensagens e redes sociais, em tomada de poder e na invasão das sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF). Por omissão, negligência ou incompetência, ninguém deu a devida importância aos indícios que poderiam ter evitado a barbárie, o ultraje, o desrespeito, a vergonha e a humilhação que se viu em 8 de janeiro de 2023 – o dia em que as instituições democráticas foram vilipendiadas por uma horda de desatinados. O dia da infâmia. 

Quase um ano depois, a memória da selvageria provocada pelos vândalos que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes ainda causa espanto, tristeza e indignação. Espanto porque é difícil entender como cerca 5000 manifestantes conseguiram avançar com tamanha facilidade sobre policiais que estavam alertados sobre o protesto previsto para aquele dia e, principalmente, porque os objetivos eram discutidos abertamente pelos organizadores. Tristeza porque revela o nível de absurdo que a polarização política irracional pode atingir. Indignação porque foi mínimo constrangedor testemunhar a democracia ser testada aos olhos de todo o planeta por lunáticos que não aceitavam o resultado de uma eleição legítima. No “protesto”, manifestantes quebraram as vidraças, os móveis e obras de arte do Planalto, atearam fogo no plenário do STF, vandalizaram as instalações do Congresso. Riram, se divertiram e comemoraram a destruição. Alguns não sabiam direito por que estavam lá. Outros chegaram dispostos e preparados para a baderna. Juntos, protagonizaram um dos mais degradantes capítulos da história recente. 

(...) 

(Matéria da revista Veja, 22 de dezembro de 2023) 

E se o 8 de janeiro tivesse dado certo? 

Marta Sfredo

 

(...) 

Nos depoimentos detalhados que começam a surgir agora ‒ quando se imagina que o risco de insurreição esteja contido ‒, foi por um detalhe: a não decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pode ter feito a diferença entre um país que teve sobressalto e surpresas positivas na economia em 2023 e o que se originaria de um golpe de Estado. 

Nesse país imaginário, o presidente não viajaria, porque ditadores costumam não ser bem-recebidos no Exterior. Nem os empresários, em busca de negócios. Também não haveria melhora na nota de crédito, que ainda está longe da ambição de voltar ao “clube dos bons pagadores”, mas, depois de 2023, menos longe. 

O saldo da balança comercial não teria sido de US$ 98,84 bilhões, porque o comércio teria constrangimentos, se não sanções. E se alguém chamasse o presidente de turno de “ladrão” iria para a cadeia. Simples assim. 

(Da seção de +Economia, Zero Hora, 7.1.2024)

Um comentário:

  1. Momento triste que não deve ser esquecido.
    Foi a derrota daquele horror,e a vitória da Democracia.

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