terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Ainda assim eu me levanto

 Maya Angelou

Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas, ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.
 

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.
 

Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.
 

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh’alma enfraquecida pela solidão?
 

Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim,
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.
 

Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar.
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas, ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.
 

Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Por que eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?
 

Da favela, da humilhação imposta pela cor,
Eu me levanto.
De um passado enraizado na dor,
Eu me levanto.
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
 

Deixando para trás noites de terror e atrocidade,
Eu me levanto.
Em direção a um novo dia de intensa claridade,
Eu me levanto.
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto.
Eu me levanto.
Eu me levanto.

**********

Maya Angelou (4 de abril de de 1928 – 28 de maio de 2014), figura extraordinária das letras norte-americanas, foi porta-voz dos anseios e da revolta dos negros. Amiga de Martin Luther King e de Malcolm X, a vida inteira dedicou-se à militância pelos direitos civis de seu povo. Nascendo em Saint Louis – Missouri, partindo de uma infância miserável e cheia de tropços no Sul profundo, educou-se, para consagrar-se a duas causas: a seu povo e à poesia. Viajou pelo país fazendo campanhas onde fosse necessário; posteriormente percorreria também a África, sempre denunciando a injustiça. Artista polivalente, fez teatro, cinema, televisão, dança. Autora de livros de memórias e assessora de presidentes, soube empunhar a poesia como arma de luta pela emancipação. 

Do Pensar Contemporâneo 

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