quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Recado aos desmatadores

 Borzeguim 

Tom Jobim

(Recado aos desmatadores, garimpeiros e agricultores)

 

Borzeguim, deixa as fraldas ao vento
E vem dançar,
E vem dançar.
Hoje é sexta-feira de manhã,
Hoje é sexta-feira.
Deixa o mato crescer em paz,
Deixa o mato crescer,
Deixa o mato.
Não quero fogo, quero água.
(deixa o mato crescer em paz)
Não quero fogo, quero água.
(deixa o mato crescer em paz)
Hoje é sexta-feira da paixão,
Sexta-feira santa.
Todo dia é dia de perdão,
Todo dia é dia santo,
Todo santo dia.
Ah, e vem João, e aí vem Maria
Todo dia é dia de folia.
Ah, e vem João e aí vem Maria.
Todo dia é dia.
O chão no chão,
O pé na pedra,
O pé no céu.
Deixa o tatu-bola no lugar,
Deixa a capivara atravessar,
Deixa a anta cruzar o ribeirão,
Deixa o índio vivo no sertão,
Deixa o índio vivo nu,
Deixa o índio vivo,
Deixa o índio.
Deixa (É fruta do mato) (Deixa)
Escuta o mato crescendo em paz

(É fruta do mato)
Escuta o mato crescendo,
Escuta o mato,
Escuta.
Escuta o vento cantando no arvoredo,
Passarim, passarão no passaredo.
Deixa a índia criar seu curumim,
Vá embora daqui, coisa ruim,
Some logo,
Vá embora,
Em nome de Deus.
É fruta do mato,
Borzeguim, deixa as fraldas ao vento,
E vem dançar,
E vem dançar.
O jacu já tá velho na fruteira,
O lagarto teiú tá na soleira,
Uirassu foi rever a cordilheira,
Gavião grande é bicho sem fronteira.
Cutucurim,
Gavião-zão,
Gavião-ão.
Caapora do mato é capitão,
Ele é dono da mata e do sertão.
Caapora do mato é guardião,
É vigia da mata e do sertão,
Deixa a onça viva na floresta,
Deixa o peixe n'água que é uma festa,
Deixa o índio vivo,
Deixa o índio,
Deixa,
Deixa.
Dizem que o sertão vai virar mar,
Diz que o mar vai virar sertão,
Deixa o índio,
Dizem que o mar vai virar sertão,
Diz que o sertão vai virar mar,
Deixa o índio,
Deixa,
Deixa.

Escrita por Tom Jobim, música Borzeguim “é composta sobre uma única frase melódica, e sua letra cita, de forma sutil, a natureza selvagem brasileira e os índios nativos do Brasil, com uma conotação de preservação e contra a sua devastação e exploração” (fonte: Wikipedia).

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