segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A ignorância ao alcance do todos

Nestor de Holanda



Um jornal do Rio publicou, não há muito, na manchete, a locução adverbial “à beça”, com cê-cedilha, como manda o figurino. O diretor foi à redação, reclamar do redator-chefe:
– O senhor viu a manchete?
– Vi.
– Quem é o responsável?
O redator-chefe chamou o editor:
– O senhor viu?
– Vi.
– Quem é o responsável?
O editor chamou o secretário:
– Viu?
– Vi.
– Quem é?
O secretário chamou o chefe do “copy-desk”:
– Viu?
– Vi.
– Quem?
O chefe do “copy-desk” chamou um sofredor de sua seção:
– Quem?
O reescrevedor chamou um repórter:
– Passei a notícia pelo telefone.
Assim, voltou do reescrevedor para o chefe do “copy-desk”, deste para o secretário, para o editor, para o redator-chefe e para o diretor, a informação de que ninguém na redação era responsável. Em conseqüência, chamaram o chefe da revisão. E o diretor foi severo:
– O senhor viu “beça”, com cê-cedilha, na manchete?
− Vi, sim, senhor. Vi em cima da hora. Se não chego a tempo, saía com dois esses...
– O diretor perdeu o rebolado. Esperava tudo, menos aquela informação de que dois esses estariam errados. Mas não perdeu a dignidade de diretor:
– Espero que isso não se repita.
– Isso o quê?
– O senhor ser forçado a trocar letras em cima da hora.
– Sim, senhor.
Afastou-se o diretor, pisando forte. O chefe da revisão voltou ofendido e bradou, zangado, para os subalternos:
– Por causa de “bessa” com “ss”, o diretor me espinafrou à beça. Espero que isso não se repita.

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