Nestor de
Holanda
Um
jornal do Rio publicou, não há muito, na manchete, a locução adverbial “à beça”,
com cê-cedilha, como manda o figurino. O diretor foi à redação, reclamar do
redator-chefe:
–
O senhor viu a manchete?
–
Vi.
–
Quem é o responsável?
O
redator-chefe chamou o editor:
–
O senhor viu?
–
Vi.
–
Quem é o responsável?
O
editor chamou o secretário:
–
Viu?
–
Vi.
–
Quem é?
O
secretário chamou o chefe do “copy-desk”:
–
Viu?
–
Vi.
–
Quem?
O
chefe do “copy-desk” chamou um sofredor de sua seção:
–
Quem?
O
reescrevedor chamou um repórter:
–
Passei a notícia pelo telefone.
Assim,
voltou do reescrevedor para o chefe do “copy-desk”, deste para o secretário,
para o editor, para o redator-chefe e para o diretor, a informação de que
ninguém na redação era responsável. Em conseqüência, chamaram o chefe da
revisão. E o diretor foi severo:
–
O senhor viu “beça”, com cê-cedilha,
na manchete?
−
Vi, sim, senhor. Vi em cima da hora. Se não chego a tempo, saía com dois
esses...
–
O diretor perdeu o rebolado. Esperava tudo, menos aquela informação de que dois
esses estariam errados. Mas não perdeu a dignidade de diretor:
–
Espero que isso não se repita.
–
Isso o quê?
–
O senhor ser forçado a trocar letras em cima da hora.
–
Sim, senhor.
Afastou-se
o diretor, pisando forte. O chefe da revisão voltou ofendido e bradou, zangado,
para os subalternos:
–
Por causa de “bessa” com “ss”, o diretor me espinafrou à beça. Espero que isso não se repita.
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