Dom Dadeus
Grings*
São Paulo, há dois mil anos, garantia
que se fosse só para este mundo que tivéssemos colocado nossa esperança em
Jesus Cristo, seríamos de todos os homens os mais dignos de lástima. A morte
constitui o último baluarte da vida. Cristo garante uma morada eterna no céu.
Para entrar nesta morada é preciso desvencilhar-se de
muitos apegos. Jesus garantiu ser mais fácil um camelo passar pelo buraco da
agulha que um rico entrar no Reino dos céus. Na sua época as cidades tinham
portões bem guarnecidos. Fechavam à noite e em tempos de guerra. Ficava então
disponível para os cidadãos apenas uma pequena porta, chamada de “buraco da
agulha”. Não conseguindo passar pelo portão, era necessário passar por este
“buraco”, o que requeria certos cuidados.
Como o “buraco” era pequeno, tornava-se difícil passar
com um camelo, que era o veículo daquela época. Em primeiro lugar tinha que se
apear. Além disso descarregar tudo o que se tinha em cima. Depois era preciso
baixar o camelo: sua cabeça e dobrar os joelhos. Era necessário que alguém o
puxasse e outro o empurrasse, para assim atravessar o orifício das muralhas da
cidade. Este trabalho levava bastante tempo e exigia muito esforço. É o símbolo
que Cristo encontrou para ensinar como entrar no Reino de Deus: apear do
orgulho, descarregar os fardos da vida e contar com a ajuda dos outros: de
Maria, dos santos e amigos que, com sua oração, possibilitarão atravessar esta
porta apertada para ingressar no céu.
*Dom Dadeus Grings (Nova Petrópolis, 7 de setembro
de 1936)
é um bispo
católico,
arcebispo-emérito de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
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