Luis Godinho
Adão Latorre, no centro, e seus ajudantes.
No ano de 1983 ao ler o livro “A
história de Bagé” de Eurico Jacinto Sales, edição 1955, dei início a uma
pesquisa sobre a vida de Adão Latorre (foto acima no meio), o que acabou em
letra e música. Naquela época ainda não se dava muita importância à degola
(combate do Rio Negro). Entendiam que o “Negro Adão” não passava de um covarde
a mando do general Joca Tavares. Os anos se passaram e a música com letra de
minha autoria e melodia de Luiz Carlos Camejo Cardoso (o Cardosinho de Bagé),
interpretação de Wilson Paim, tornou mais popular e entendida a figura de Adão
Latorre. Já no ano de 1993, Centenário da Revolução Federalista, a Urcamp,
Bagé, através do ilustre mestre, professor, pesquisador e historiador Dr.
Tarcísio Antônio da Costa Taborda, realiza um belo conclave em comemoração ao
centenário da revolução, quando então anuncia que Adão Latorre era um
tenente-coronel do Exército Uruguaio e que atuava como mercenário na dita
revolução.
Já no ano 2004, juntamente com o
Núcleo de Pesquisa Históricas de Bagé, que tem o nome em homenagem ao Dr.
Tarcísio, visitamos o túmulo de Chico Diabo (na Guardinha) e logo a seguir o de
Adão Latorre (cemitério de Santa Tecla) aproximadamente a oito quilômetros de
Bagé. Mais adiante fomos informados por Eron Vaz Mattos do local onde moravam
os pais de Adão Latorre (Rodeio Colorado) a partir da aí, então, é que
entendemos o motivo da degola do Rio Negro, ou seja, o coronel Pedroso, depois
de atear fogo na Estância do Limoeiro, cruza pelos “Olhos D’Água” e a poucos
quilômetros, próximo a Encruzilhada, degola os pais de Adão Latorre e ateia
fogo no seu rancho. Por esse motivo é que Adão Latorre se apresenta como
voluntário aos revolucionários com o intuito de vingar o assassinato de seus
pais por Manoel Pedroso, o que aconteceu com a sua degola e a seguinte
narrativa, segundo o Dr. João Maria Colares, em História de Bagé por
Eurico Jacinto Sales, página 278:
Ilustração de Edgar Vasques
Manoel Pedroso:
-
Adão, quanto vale a vida de um homem valente e de bem?
Adão Latorre:
- De bem... não sei! A vida de um homem vale muito, a tua
não vale nada porque está no fio de minha faca e não há dinheiro que pague.
Manoel Pedroso:
-
Pois então degola, negro filho da puta!
Dito isso, segurou-se a
um arbusto, levantando a cabeça para facilitar a tarefa ao inimigo.
Assistiu essa cena Pedro Luis Lacerda
que dizia ainda haver ouvido o pedido de Pedroso a Adão para que entregasse um
anel de seu uso a uma filha residente em Pelotas, segundo informações foi
cumprido o feito por Adão Latorre. Passou anos e segundo as pessoas que
conviveram com Adão diziam que era um cidadão de paz, amigo e servidor.
Na minha passagem pelo Exército
Brasileiro por quase 30 anos, conheci o Pedro Antônio de Souza Neto (tio
Pedro), ferreiro do antigo 12º RC, hoje 3º Batalhão Logístico (Batalhão
Presidente Médici), o qual, ao conhecer a música Adão Latorre e seu autor,
confessou que, no ano de 1923, com a patente de 3º sargento do Exército, foi
designado a integrar um pelotão para fazerem o translado do corpo de Adão
Latorre do Passo da Maria Chica (Ferraria, Dom Pedrito) para Bagé, onde foi
sepultado no cemitério de Santa Tecla onde se encontra até hoje, conforme
registro fotográfico, juntamente com seu irmão, o major João Latorre. Segundo
informações, Adão Latorre foi fuzilado pelos capangas do major Antero Pedroso
irmão de Manoel Pedroso em uma emboscada. Pedro Antônio de Souza Neto
desempenhou suas funções no 3º Batalhão Logístico, até os 90 anos de idade,
vindo a falecer com toda a sua lucidez, aos 93 anos.
Adão Latorre e Fulião
Túmulo de Adão
Latorre
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A morte de Adão relatada por seu filho
A morte de Adão Latorre, segundo o filho, João Latorre, que completou 100 anos no dia 9 de julho de 1998*, foi vingança: “No Rio Negro, ele matou Maneco (Manoel) Pedroso. Depois, o irmão, Antero Pedroso, matou ele. Foi ali perto do Ponche Verde. Contam que a primeira bala que meteram foi na cincha do cavalo. O cavalo deitou, e o velho apeou. Contam que esse mato aqui (aponta a foto) foi destruído à metralhadora, ficou torrado!”
Adão Latorre morreria, aos 88 anos, na manhã do dia 15 de maio de 1923, perto do rio Santa Maria Chico, em Bagé, com o lenço vermelho dos Maragatos, lutando contra os Pica-paus, agora rebatizados de Chimangos.
*1998, data do lançamento do livro citado abaixo, de onde foi retirado o relato acima.
Moro nos EUA e estou fazendo uma pesquisa (para meu livro) sobre Bagé, cidade onde nasceu meu pai e meu avô tinha uma fazenda. Alguma sugestão onde eu poderia obter o livro de Eurico Jacinto Sales?
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