sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Histórias de paraquedistas V

Réquiem para o melhor amigo


(Em 1964, Dolfh, tranquilo e equipado,
prepara-se para saltar de um C-82 da FAB.)

“Queda-te*, Dolfh, levanta tuas orelhas de cão inteligente,
e ouve nossas palavras de despedida.”

(Cap Pqd. William Barcellos da Silva)**

**Pqdt 3277, do Turno 1957/5 - MS 585 e Prec 52.

*“Queda-te”, Dolfh! Levanta tuas orelhas de cão inteligente e ouve nossas palavras de despedida, palavras de dor e saudade daqueles que, tantas vezes, saltaram contigo.

Naquela manhã fatídica de fevereiro de 1965, quando te despregastes do paraquedas e mergulhaste no vazio arrastaste, em tua trajetória, um pedaço de nós mesmos.

Talvez nunca tenham te dito, mas devias adivinhar pela nossa atitude e carinho, o quanto queríamos a ti e a teus companheiros, e o orgulho que tu nos causavas, como ainda nos causa, a existência de teus irmãos de matilha.

De repente, deixaste de existir... deitado na grama úmida de Afonsos, parecias apenas dormir, só que não levantarias, rápido e atento, ao comanda do teu condutor e tua cauda, agora quieta para sempre, não mais abanaria freneticamente, em sorrisos espontâneos, àqueles que te afagavam.

De tua matéria, resta agora aquela cabeça empalhada que nos contempla no salão de honra; teu espírito de cão fiel ronda o firmamento, ao lado dos legendários PILOTO, BISU e BIANCA e, quando o vento sopra mais forte, nós ouvimos no seu lamento, os uivos de saudade de nossa matilha celeste.

Retornaste aos céus, Dolfh, não precisas mais de paraquedas; cumpre, entre as estrelas, ainda uma vez, a tua missão divina de cão de guarda e cuida para que teu céu seja sempre propício a singrá-lo, cavalgando as asas de nylon que Deus nos deu.

E quanto a tua matéria, pela última vez, amigo velho:

- Queda-te!... Down! Resquiescat in Pace!

x.x.x.x.x.x.x.

Obs.1: Queda-te e Down - comandos internacionais utilizados nos treinamentos de cães, significam: Quieto e deita.

Obs.2: Dolfh morreu em fevereiro de 1965, pois seu paraquedas se desprendeu de seu corpo.

Obs.3: Resquiescat in Pace, em português, significa: Repousa em Paz.

CÃES PARAQUEDISTAS

Embora esta Brigada hoje não mais detenha em sua organização um canil, destinado a “cães de guerra”, a trajetória desta GU foi marcada pela presença de inúmeros animais, cuja atuação em muito contribuiu, principalmente pela divulgação em inúmeras demonstrações, a partir da década de 1950.

Assim, o registro de sua MEMÓRIA HISTÓRICA, faz uma justa e oportuna menção à presença dos principais animais e a homenagem aos veterinários, adestradores e integrantes do Canil, ao longo dos tempos.


A partir do "PILOTO”, muitos foram os cães que se destacaram no adestramento e nos saltos de pára-quedas, mercê do trabalho fecundo e dedicado dos veterinários e tratadores, na preparação dos animais, quer para atividades ligadas à operacionalidade, onde se incluía o salto de paraquedas, em especial nos primórdios da tropa, quando das demonstrações, destinadas à atração de recrutas, se fazia necessária a atração de voluntários ao paraquedismo militar.



Acima e abaixo cão Piloto na porta do avião.



Cão Piloto sendo lançado pelo Sgt Edegar Marques, Pqdt 17, pioneiro.

Além da pratica do salto, o constante aprimoramento da raça dos nossos cães, principalmente da raça de pastores-alemães, resultou na conquista vários prêmios de destaque em inúmeras exposições.

Entre tantos, pode-se destacar a realizada no ano de 1966, realizada no Clube Piraquê, do Rio de Janeiro, quando as cadelas PHEDRA e TARUNA, conquistaram o 1° lugar e o cão BLENEN o segundo.

Nossos principais cães

PILOTO - da raça pastor alemão, foi o primeiro cão paraquedista, brevetado no dia 27 Julho de 1951, pelo próprio comandante, Coronel PENHA BRASIL, na mesma cerimônia onde receberam o brevê 52 novos paraquedistas militares, participando do desfile comemorativo, foto abaixo.



Na solenidade, sob a admiração dos presentes, o cão recebeu também uma medalha de ouro que lhe foi concedida pelo KENEL CLUBE DO RIO DE JANEIRO (RJ).

Depois de submeter-se aos treinamentos da ÁREA DE ESTÁGIOS, com saltos da torre, arrastamento e os outros procedimentos, executou os cinco saltos de qualificação, sendo o último no dia 26 Julho de 1951, a bordo da aeronave C-47, 2063, sobre a ZL do GRAMACHO (RJ), sempre lançado pelo seu adestrador, o Sargento Edgar marques (2).

A partir de então, passou a integrar as demonstrações de salto por várias regiões do Brasil, sempre conduzido pelo seu adestrador, sendo alvo da curiosidade e da admiração da grande platéia que acorria para assistir aos lançamentos, sendo o grande fator da divulgação da nossa GU, cuja principal finalidade era a de atrair novos voluntários.

Executou ao todo 46 (quarenta e seis) saltos, vindo a falecer em 1954, vítima de pneumonia. Foi embalsamado, ficando exposto nas dependências da GU.

O paraquedas que usava em seus saltos fora preparado pelo civil WILLIAM BUSS, especialmente contratado para esse fim.

Outros Cães

       Bianca - brevetada em 1957;

       Bisu;

       Buck - brevetado 58/8;

       Lobo - brevetado em 8 Out 64;

       Dolfh;

       Niki - brevetado em 4 Nov 65;

       A Cadela - “CPP2”.

Além dos cães acima citados, foi destaque, também, a “vira-lata” denominada “CPP2”, que saltava dentro de uma bolsa de transporte de paraquedas, tendo executado cerca de 20 saltos. Acompanhava sempre a tropa, tendo participado das manobras realizadas em CAVERÁ (RS), MARAMBAIA (RJ), GERICINO e XEREM, todas no RJ, entre os anos de 1966 e 1968.

Cadela Saltadora Livre

No mês de setembro de 1981, a cadela “ALIXA”, foi lançada sobre AFONSOS (RJ), com paraquedas de salto livre, especialmente adaptado com o dispositivo “KAP-3, de abertura automática.

Todo o equipamento e adaptações necessárias para o lançamento, como paraquedas, óculos, botas, toucas e outros apetrechos, foi preparado pelo atual Capitão CARIBÊ LEMOS MONTE SANTO, um dos principais saltadores livres desta GU.

Tratadores e Adestradores

A começar pelo citado Sargento EDEGAR MARQUES (2), muitos foram os militares que realizaram excelente trabalho junto ao canil, quer como Veterinários, Adestradores e Auxiliares, aos quais se presta homenagem, incluindo o grande contingente de anônimos, de igual importância pelo seu trabalho e dedicação. Majores SOUZA e GÓES e Sargentos ELIAS e RIBAS.

E outros, que por falta de melhores dados e da memória, deixam de ser citados e que são credores de igual referência.

Desativado, o canil passou à responsabilidade da BRIGADA DE OPERAÇÕES ESPECIAIS, subordinada ao COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES.

(1) Morto durante a realização de salto em Afonsos, na década de 60, sendo homenageado com bela crônica do Cap. WILLIAM BARCELLOS DA SILVA.

Fotos



Hugo Romeu, Pqdt 211*  e Buck

*Já falecido


À direita, Hugo Romeu, Pqdt 211, e Piloto


Preparando um cão para o salto


O cão Xipanique com o pioneiro 44, Casemiro Scepaniuk



O cão Piloto e o Sgt Scepaniuk,
na ZL de Gramacho

Casemiro Scepaniuk: 28 de novembro de 1921 - 02 de fevereiro de 2016.


5 comentários:

  1. No ano de 2018, 3 Unidades da Bda Inf Pqdt possuem cães: 8º GAC Pqdt, 25ºBIPqdt e 36º Pel PE Pqdt. Os cães são considerados Pacotes e como tal são lançados. Informações transmitidas a Seç. Arq Hist, pelo 2ºSgt MERÇON, Adestrador.

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  2. Valeu, amigo peps45, pela informação. Continue lendo e prestigiando o nosso almanaque. (Nilo Moraes)

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  3. Nilo estou pesquisando sobre a presença do civil William Buss em vários saltos na Escola de Paraquedistas em 1951. Ele aparece nos saltos do cão Piloto e em outras ocasiões com outros civis - Coelho e Jader e tb em 1 salto como recolhedor de fitas, sempre sem saltar e também como fotografo. Aero C-47

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    1. Vou tentar atender ao pedido do amigo, confesso que nunca ouvi falar de William Buss. Mas vamos à luta.

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  4. Se tiver alguma novidade, avise-me. É um personagem muito interessante.

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