O rabino Henry Sobel, por ocasião
da morte de Mário Covas,
contou a seguinte parábola:
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando
mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de
beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar
azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um
pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se
encontram. Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente
exclamará: “Já se Foi! Terá sumido? Evaporado?”. Não, certamente. Apenas o
perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que
tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao
porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o
podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E, talvez, no exato instante em que
alguém diz: “Já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o
veleiro!”... Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: “Já se foi!. Terá sumido? Evaporado?”. Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: “Já se foi.”, no além, outro alguém dirá: “Já está chegando!”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida. Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que
para uns parece ser a partida, para outros é a chegada. Assim, um dia, todos
nós partimos como seres imortais que somos todos nós ao encontro Daquele que nos
criou.
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