segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Histórias de paraquedistas VII




O poeta, o poema e o declamador.

O poeta Edson Xavier de Almeida, Pqdt 509 - do 1951/3 - MS 311, sergipano de Laranjeiras, já falecido, transferiu-se jovem para o Rio de Janeiro, formou-se em Letras, ingressou no Exército, foi paraquedista e estava na reserva remunerada, no posto de capitão. De volta a Sergipe, prosseguiu a carreira no magistério, aposentando-se como diretor do Colégio Gonçalo Rollemberg Leite. Um poeta de larga vivência. Como diz a orelha do livro, em “Edson Xavier de Almeida, o militar, o professor e o poeta tiveram sempre igual dimensão e coexistiram em perfeita harmonia”.

O poema “Boina Paraquedista” é o pedido de um pqdt, que morreu, para que deixem na cruz do seu túmulo a sua boina vermelha, por ele, com tanto orgulho, ostentada. E ele, mesmo depois de morto, sempre que houver um salto, mesmo sendo somente espírito, saltará junto com outros paraquedistas, e somente sua boina vermelha o denunciará na descida.

O declamador de tão belo soneto, que tive o privilégio de ouvir, é o Mestre Ly Adorno (foto abaixo), que, com uma boina vermelha nas mãos, a declama com sentimento e emoção. Sempre que houver uma festa com pqdts, peça a ele que a recite. É de arrepiar!

P.S. O mestre Ly Adorno de Carvalho, Pqdt 503 - MS - Prec - FE e Comando, faleceu em 20.02.2015, em Vila Velha-ES.


Ly Adorno declamando, na Área de Estágios,
o poema Boina Paraquedista.

Na foto acima, à esquerda, mão no bolso, aparece o Cap. Paulo Schmidt Ávila, Pqdt 20260, MS 2116, ETA 42, que faleceu em maio de 2018, que aglutinava todos os ex-paraquedistas do Rio e de outros estados do Brasil.

Boina Paraquedista*

A todos os Guerreiros Alados, audazes Paraquedistas, que destemidos
e sem vacilar, surgindo do anil, lançaram-se para a ZL do infinito.

Cap. Pqdt 509 Edson Xavier de Almeida


Quando a hora final me for chegada,
O toque de silêncio, o adeus, a dor...
Quero esta boina rubra pendurada
Na solitária cruz para onde eu for.

E então a minha boina avermelhada,
Com o meu sangue estampado em sua cor,
Há de ser para sempre relembrada
Como o troféu de um bravo - o destemor!

E não se assustem, para o espaço olhando,
Se virem, no final de uma largada,
Minha boina vermelha flutuando...

Certamente, sou eu que ainda estarei,
Com saudade da vida e da Brigada,
Saltando entre os amigos que deixei.


 Extraído do livro “Musa Rediviva”,
pág.226, de Edson Xavier de Almeida.

* Declamado pelo Maj Pqdt André Thiago Salgado Chrispim, na Noite Litero-Musical, realizada no Campo do CI Pqdt Gen Penha Brasil, em 27 de outubro de 1995. (Hoje. Cel Chrispim, Pqdt 34300 - MS 3343 - MSSL 348 e CIGS 3189)

P.S.  No Rio Grande do Sul, principalmente em Porto Alegre, no falecimento de algum paraquedista, sempre há alguém que, com uma boina nas mãos, declama para a família e para o grupo que homenageia o falecido, o poema Boina Paraquedista.

O início do uso da boina


Acima, à esquerda a primeira boina,
no meio, a boina de veteranos e,
à direita, a atual boina militar.

Tentando retribuir, mesmo que modestamente para sua bela publicação, informo com base rigorosamente correta, que a introdução da Boina bordô, efetivou-se durante o comando do Gen. Augusto Cezar de Castro Moniz de Aragão, em ato de 15 setembro 1964, resultando principalmente dos esforços pessoais dos então Cap. Hamilton, Bazarov e Osíris, este com empenho junto à Empresa Prada de Limeira (SP), onde diligenciou para a confecção das primeiras 2.500 peças que foram distribuídas à tropa, que as levou sob o blusão, durante o desfile de do dia 7 de setembro, na esperança não concretizada de que a ordem chegasse a tempo.

Domingos Gonçalves

P.S.: Os paraquedistas de 1964, entre os quais eu me incluo, usaram dois tipos de cobertura: o antigo bibico até 14 de setembro; a partir do dia 15 do mesmo mês, a famosa e definitiva boina vermelha. com um brevê prateado com um círculo. Vide primeira boina à esquerda, entre as três acima, que substituiu o antigo bibico, usado pelo Gen. Penha Brasil, na foto abaixo, brevetando o futuro Gen Moniz de Aragão.



Ten Gilseno brevetando, em 1964, um sargento; este com o bibico,
aquele com o primeiro brevê, usado na boina,
pelos paraquedistas militares brasileiros.

Os primeiros paraquedistas a usar a boina
 7 de setembro de 1964


Defronte ao Bosque dos Campeões: da esquerda para a direita:
Ten Gilseno*, Ten Rangel, Ten Máximo e Ten Monteiro de Barros.

P.S. Eles apenas pousaram com a boina, antes do Desfile de 7 de setembro de 1964, pois a ordem de desfilar com a mesma não foi assinada pelo Ministro da Guerra, Mal Costa e Silva,  a ordem só foi assinada no dia 15 de setembro de 1964.

*O Ten Gilseno, mais tarde, como General, foi comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista.


“Quero poder divisar um paraquedista ao longe,
ou no meio da multidão.”

Gen Augusto Cezar de Castro Moniz de Aragão – sobre a boina Pqdt.







4 comentários:

  1. A cor da boina, como prevista na portaria ministerial de 1968, de posse do Cap Gonçalves e constante do RUE(3ªEdição) - BORDEAUX(1968)- BORDÔ (RUE)

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  2. Sim, eu tenho a minha boina original que recebi em 15 de setembro de 1964. A cor era bordô, a cor do vinho tinto...

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  3. Sou o paraquedista nº34.300, André Chrispim, do 80/1 Esp CBásPqdt. Em 1995, no Jubileu de Ouro da Brigada, houve uma noite lítero-musical onde fui convidado pelo Prec nº 15, José Álvaro Diniz Nogueira, a declamar o maravilhoso "Boina Paraquedista" e outro soneto do insigne Mestre Edson Xavier de Almeida, "Luz Vermelha", cujo texto reproduzo a seguir:

    Já estamos no ar, em pleno espaço
    Sobre as asas de prata do avião
    A terra está mais longe a cada passo
    E o céu rasteja em nossa direção.

    Roncam os motores, desenhando um traço
    Sobre o abismo infinito, na amplidão
    A morte e a vida acenam de um pedaço
    De nuvem, com rendados de algodão.

    A luz vermelha da aeronave é acesa;
    Dentro de alguns instantes, saltaremos
    Como seres alados, no infinito;

    E restará, de tudo, uma certeza:
    Existe risco, sim, no que fazemos,
    Mas nada há de melhor, nem mais bonito!

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  4. Grato Cel Chrispim, Pqdt 34.330 - MS 3343 - MSSL 348 e CIGS 3189 pela colaboração e comentário.

    Sua leitura dos poemas estão registradas no livro “Ser Pára-quedista 50 anos de Para-quedismo Militar no Brasil”,
    De Ly Adorno de Carvalho

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