(Irmãos Grimm –
Tradução de Ana Maria Machado)
Era uma vez um velho muito
velho, quase cego e surdo, com os joelhos tremendo. Quando se sentava à mesa
para comer, mal conseguia segurar a colher. Derramava sopa na toalha e, quando,
afinal, acertava a boca, deixava sempre cair um bocado pelos cantos.
O filho e a nora dele
achavam que era uma porcaria e ficavam com nojo. Finalmente, acabaram fazendo o
velho se sentar num canto atrás do fogão. Levavam comida para ele numa tigela
de barro e – o que era pior – nem lhe davam bastante.
O velho olhava para a mesa
com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas.
Um dia, suas mãos tremeram
tanto que ele deixou a tigela cair no chão e ela se quebrou. A mulher ralhou
com ele, que não disse nada, só suspirou.
Depois ela comprou uma
gamela de madeira bem baratinha e era aí que ele tinha que comer.
Um dia, quando estavam
todos sentados na cozinha, o neto do velho, que era um menino de quatro anos,
estava brincando com uns pedaços de pau.
– O que é que você está
fazendo? – perguntou o pai.
O menino respondeu:
– Estou fazendo um cocho,
para papai e mamãe poderem comer quando eu crescer.
O marido e a mulher se
olharam durante algum tempo e caíram no choro. Depois disso, trouxeram o avô de
volta para a mesa. Desde então passaram a comer todos juntos e, mesmo quando o
velho derramava alguma coisa, ninguém dizia nada.
Sempre que eu me deparava com este conto dos Grimm, eu lembrava, e o associava, a canção caipira: Couro de Boi. Ambos tratam do mesmo tema.
ResponderExcluirBem feita e oportuna a sua associação: A música Couro de boi trata do mesmo tema e agora também está neste almanaque.
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