segunda-feira, 3 de novembro de 2014

F E B E M

Reynaldo Jardim

Desempregue um pai,
deixe-o na lona.
A mãe abandone
no estado de coma.
Jogue na sarjeta
o filho indigente,
será, se viver,
mais um sobrevivente.
Na rua terá
que buscar sustento,
esmolando o pão,
dormindo ao relento,
até que a miséria
converta o menino
em ladrão safado
ou cruel assassino.
Agora o espanque,
com seu cassetete,
mais um brasileiro
que virou pivete.
Para o bem de todos,
pro seu próprio bem,
já está escrito:
vai para a Febem.
O que é bom pra tosse
aprende na marra.
Com muita pauleira
afie sua garra.
E na bandidagem
ele não se aperta.
Enturme o garoto
numa gangue esperta.
Instigue a revolta
e a paixão funesta.
Na primeira volta
ele faz a festa:
mete o estilete
na barriga magra
de um desafeto
que seu pé não larga.
Jurado de morte,
estende sua teia,
junta sua tribo
 e o fogo ateia.
Você que o matou
na revolta insana,
 não corre perigo
 de entrar em cana.
Você que aprendeu
a arte e a manha
de fazer miséria
repita a façanha.
Desempregue um pai,
que um país sofrido
sabe muito bem,
fabricar mais um bandido.





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