Paródia
Os modernistas realizam, em todas
as artes, uma aproximação crítica das obras do passado. No universo literário,
a releitura de textos famosos das escolas anteriores torna-se uma forma de
rejeição ou de admiração. Com freqüência, os modernos terminar por reescrever
alguns dos textos consagrados sob uma perspectiva de humor: é a paródia.
Ser Mãe
Coelho Neto
Ser
mãe é desdobrar fibra por fibra
o
coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio
que suga o pedestal do seio,
onde
a vida, onde o amor cantando vibra.
Ser
mãe é ser um anjo que se libra
sobre
um berço dormido! É ser anseio,
é
ser temeridade, é ser receio,
é
ser força que os males equilibra!
Todo
bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho
em que se mira afortunada,
luz
que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser
mãe é andar chorando num sorriso!
Ser
mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser
mãe é padecer num paraíso!
Ser Pai
Max Nunes
Ser
pai é padecer eternamente
Tendo
na face um riso satisfeito.
Aparentar
que a tudo tem direito
Sem
ter direito a nada finalmente.
É
suportar a esposa alegremente
E
aos seus caprichos se mostrar sujeito.
Tratar
com muita calma e com respeito
A
sogra feia, chata e impertinente.
Ser
pai é ter um filho já taludo
Que
pede isso, aquilo e pede tudo;
Dinheiro
exige aos gritos e sem sussurro.
Diz
Coelho Neto, em versos bem precisos:
Ser
mãe é padecer no paraíso,
Mas
ser pai é sofrer pra não ser burro.
Ser
moderna é remontar fibra por fibra
o
peitão! Ser moderna é não ter o receio
de
ficar bonita, botando silicone no seio,
onde
a natureza, recriada, balançando vibra.
Ser
moderna é ter um marmanjo que se libra
sobre
o busto rígido! É ser dois seios,
é
não necessitar de outros meios,
é
ter força, onde o vestido se equilibra!
Todo
o bem que goza é bem da humanidade,
espelho
onde se mira, sem culpa,
ser
menina, em qualquer idade!
Ser
moderna é ser siliconada!
Ser
moderna é ter prótese mamária!
Ser
moderna é ser um colírio pra gurizada!
No
meio do caminho tinha uma pedra
tinha
uma pedra no meio do caminho
tinha
uma pedra
no
meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca
esquecerei desse acontecimento
na
vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca
me esquecerei desse acontecimento
que
no meio do caminho
tinha
uma pedra
tinha
uma pedra no
meio
do caminho
no
meio do caminho
tinha
uma pedra
No Meio do Caminho
Deise Konhardt Ribeiro
No
meio do caminho tinha um fusquinha
tinha
um fusquinha no meio do caminho
tinha
um fusquinha
no
meio do caminho tinha um fusquinha.
Nunca
me esquecerei desse acontecimento
na
ida de minhas noitadas tão agitadas.
Nunca
me esquecerei
que
no meio do caminho
tinha
um fusquinha
tinha
um fusquinha no
meio
do caminho
no
meio do caminho
tinha
um fusquinha.
Sem
professor. Sem aula. Sem provas.
Sem
notas. Sem computador. Sem dom.
Sem
queda. Sem inspiração.
Sem
estresse!
Só
tu.
Tu
e tu. Tu e o texto. Tu e a folha em branco.
Que
impassível espera ser preenchida, para entretecer
contigo
a teia de palavras que liga todas as dimensões de
tua
existência, nesta travessia de comunicação de ti para
contigo,
de ti para o outro.
Sem.
Só
tu.
Com
teu ritmo. Com tua pulsação. Com paixão.
Na
aventura do cotidiano. De resgatar a memória.
De
fecundar o presente. De gestar o futuro. Anunciando
esperanças.
Denunciando injustiças. In(en)formando o
mundo
com tua-vida-toda-linguagem.
Sem!
Levanta
tua voz em meio às desfigurações da existência,
da
sociedade, tu tens a palavra.
A
tua palavra. Tua voz. E tua vez.
Primeiro Filho
Antonio Carlos Paim
Terra
Sem
telefone. Sem campainha. Sem cachorro.
Sem
estresse. Sem vizinho. Sem tudo.
Sem
nada.
Sem
roupa!
Só
tu.
Eu
e tu. Tu e o teu corpo. Tu e o clima romântico.
Eu
impassível espero por ti, para entrelaçar
contigo
uma teia de carinhos que liga toda a dimensão de
nossos
corpos, nesta travessia de vibrações de ti para
comigo,
de mim para contigo.
Sem
camisinha.
Só
prazer.
Com
nosso ritmo. Com minha pulsação. Com paixão.
Na
aventura do cotidiano. De rasgar a tua roupa.
De
fecundar o presente. De gestar o futuro. Anunciando
um
bebê. Informando ao mundo
o
nascimento de uma vida.
Sem
preparativos!
Levemos
o fato para a sociedade.
Nós
temos a felicidade.
O
nosso filho.
Daqui
a nove meses.
Será
a tua vez.
XIII
Olavo Bilac
“Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste
o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que,
para ouvi-las, muita vez desperto
E
abro as janelas, pálido de espanto...
E
conversamos toda a noite, enquanto
A
via láctea, como um pátio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda
as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: “Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas? Que sentido
Tem
o que dizem, quando estão contigo?”
E
eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas.”
“Ora
(direis) ouvir os gatos! Certo
Perdeste
o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que,
para ouvi-los, muita vez desperto
E
abro os olhos, pálido de espanto...
E
conversamos toda a noite, enquanto
Seu
ronronar em um dizer aberto
Conversa.
E, ao vir do sol, eu fico em
pranto
Ao ver como o ser humano é um deserto.
Ao
Direis
agora: “Tresloucado amigo!
Que
conversas com eles? Que sentido
Tem
o que dizem, quando estão contigo?”
E
eu vos direi: “Meditai nesses fatos
Pois
só quem pensa pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender os gatos.”
Ouvir panelas
Barão de Itararé
Ora!
– direis – ouvir panelas! Certo
Ficaste
louco... E eu vos direi, no entanto,
Que
muitas vezes paro, boquiaberto,
Para
escutá-las pálido de espanto.
Direis
agora: – Meu louco amigo,
Que
poderão dizer umas panelas?
O
que é que dizem quando estão contigo
E
que sentido têm as frases delas?
E
direi mais: – Isso quanto ao sentido,
Só
quem tem fome pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e entender panelas.
*Nesta paródia do Barão de Itararé falta o último terceto do soneto.
*Nesta paródia do Barão de Itararé falta o último terceto do soneto.
Soneto compõe-se de 14 versos: 2 quartetos e 2 tercetos.Verso é cada linha do poema
*Uma paródia de Bastos Tigre ao cinema falado.
Bastos Tigre*
Ora
direis ouvir estrelas! Vejo
que
estas beirando a maluquice extrema.
No
entanto o certo é que não perco o ensejo
de
ouvi-las nos programas de cinema.
Não
perco fitas; e dir-vos-ei sem pejo
que
mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma
boca de estrela dando um beijo.
É,
meu amigo, assunto para um poema.
Direis
agora: – Mas enfim, meu caro,
as
estrela que dizem? Que sentido
têm
suas frases de sabor tão raro?
–
Amigo, aprende inglês para entênde-las,
pois
só sabendo inglês se tem ouvido
capaz
de ouvir e de entender estrelas.
Ouvir o fone
Edson Freire
Ora
(direis) ouvir o fone. Certo,
rendeste
ao intento. Eu vos direi, no entanto,
que
para ouvi-lo, eu nem sempre acerto
e
abro a boca pelo engano e espanto.
E
convenhamos, num esforço quanto
eu
tenho a linha com sinal aberto,
mas
ouço um disco me enchendo tanto
com
aquelas frases de valor incerto.
Direis,
agora – revoltado amigo
que
conversas são elas, que sentido
diz
o disquinho para teu castigo?
Eu
vos direi: Tentai algum chamado,
pois,
assim, ouvireis em cada ouvido:
“este
número não existe” do outro lado.
Soneto
Otávio Bilóca
... Ora direis: “Beber
cerveja, certo
és louco ou besta!” e eu vos direi,
no entanto,
que bebo e quando bebo fico esperto
e fico esperto e bêbado de
encanto.
E bebo sempre, dia e noite,
enquanto
no bolso encontro um NICOLAU*,
e aberto
encontro um restaurante em
qualquer canto,
onde se beba, seja longe ou
perto.
Direis agora: “Debochado
amigo,
que cerveja é a que os nervos
te sacode?
Qual preferes? Qual bebes sem
perigo?”
Eu bebo da CULBACHER** que
espumeja,
pois só quem bebe da
CULBACHER pode
dizer que bebe da melhor
cerveja!...
* Apelido de uma nota de dinheiro dos anos
30...40... no Rio Grande do Sul.
** Marca da melhor cerveja do Rio Grande do Sul, em meados
de 1900.
Otimo
ResponderExcluirqueria uma parodia do poema tudo, todos e todo
ResponderExcluirobgda <3
O poema é, realmente, muito bonito, e já esta neste almanaque. Mas a paródia fica dependendo de algum poeta que queira se aventurar a fazê-la.
ResponderExcluirestudo na FEG e isso me ajudou muito pq nn tinha musica mas nesse site tem mais musicas q algum
ResponderExcluirAmigo Lucas, faça bom uso do nosso almanaque, e curta os assuntos musicais nele contido. Um abraço de Nilo da Silva Moraes.
ExcluirNossa amei o material!!
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